Como ovelhas sem pastor
Mateus 9:35 - 38 35 “E percorria Jesus todas as
cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do
reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. 36 E, vendo as multidões, teve
grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que
não têm pastor. 37 Então,
disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os
ceifeiros. 38 Rogai, pois, ao
Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara.”
Jesus está no início de seu ministério, percorrendo as imediações de Cafarnaum,
na Galiléia. Lugar de gente simples, de
pessoas marginalizadas pelos líderes de Israel pelo fato de que aquela região
não significava absolutamente nada no que tange à história religiosa do país,
diferentemente da Judéia. A pergunta retórica de Natanael a Felipe demonstra
bem qual a imagem que se tinha da região e de suas pessoas : “e pode vir algo
bom de Nazaré?”. (João 1.46) Jesus percorria as aldeias e povoados ensinando a
respeito do Reino, curando e libertando essa gente simples e oprimida. Seu
olhar se voltou para elas de modo muito especial, com grande compaixão, diz o evangelista Mateus. A
palavra usada por Mateus para expressar o olhar de Jesus sobre as multidões é esplagchniste que indica comoção visceral. Foi mexido nas suas
entranhas. Como se sofresse dores de parto por aquelas multidões que cruzavam
seu olhar (numa linguagem paulina). Significando que, em olhando para aquelas
pessoas, em vistas da situação que se encontravam, Jesus experimentou uma grande
ebulição emocional no mais profundo de
seu ser. Teve a alma esmagada, pela visão da realidade do povo. E que realidade
era essa que causou tal comoção em Jesus?
Mateus vai registrar que o motivo de tamanha
compaixão fora o fato de que as multidões estavam “como ovelhas sem pastor”,
cansadas e sem rumo. Ovelhas sem pastor não se alimentam, não se dessedentam,
caminham a esmo, à mercê dos predadores e dos ladrões. Tornam-se presas fáceis.
O Senhor ensina, então, aos seus discípulos que peçam ao Pai, o Senhor da
colheita que envie mais operários para a ceifa, porque são poucos os ceifeiros.
É revelador que Mateus registre esse olhar de
compaixão visceral de Jesus em relação às multidões, porque nos mostra o que
consumia o coração e a alma de Jesus era que as multidões estavam sem direção,
à mercê de aproveitadores inescrupulosos. O registro de Mateus evidencia ainda
uma denúncia implícita, isso porque nos dias de Jesus Israel era uma teocracia
(o povo era governado por Deus, pelo menos nominalmente), isso significa dizer
que havia uma classe religiosa representante da boca e da vontade de Deus, do
governo de Deus sobre o povo. Eram eles, os saduceus (sacerdotes); fariseus e
escribas (mestres do povo no que se refere á doutrinação, observação, e
aplicação da Lei). Havia ainda os herodianos, classe da nobreza israelita
mancomunada ao poder romano. Esses eram os representantes de Deus diante das
multidões de Israel. Esses eram os pastores de Israel. Ora, havia abundância de
“pastores” em Israel! Fato é que nenhum deles olhava para as multidões com
compaixão.
Os saduceus, classe sacerdotal: eram a nobreza
israelita, as famílias mais ricas do país. O sumo sacerdote e os sacerdotes mantinham uma verdadeira
máfia do templo. Por exemplo: os romeiros que vinham da palestina e diversas
partes do império para a páscoa tinham de comprar animais que satisfizessem as
exigências rituais. Os sacerdotes mantinham um acordo com os vendedores e
somente animais comprados (a preços exorbitantes) dentro da área do templo
recebiam uma espécie de aprovação sacerdotal: “sem defeito” e, eram aceitos na
hora do sacrifício. As lojas de animais e utensílios para o culto pertenciam à família do sumo sacerdote. Josefo
classifica o sumo sacerdote Ananias (47 a 55 d.C.) como um homem de negócios
astuto. As lojas e os na esplanada do templo eram do sumo sacerdote. O comércio
em geral era dirigido, organizado e fomentado pela classe sacerdotal. Ao lado
do abrigo dos animais, os vendedores montavam mesas para troca de (câmbio)
dinheiro estrangeiro pela moeda local.
O templo havia se tornado um “covil de ladrões”.
Pastores ladrões, chefes da máfia da religião de Israel. Se dobraram ao poder
Romano em troca de benesses e poder. Roma cobrava os impostos dos
latifundiários (nobreza sacerdotal, que era dona das terras. Que, pela Lei, não
deveria ter terras.), que por sua vez cobravam do povo. Se Roma cobrava valores
altos dos latifundiários, os latifundiários exigiam do povo impostos
pesadíssimos, somados ainda à corrupção dos cobradores que também cobravam a
mais por conta própria. A preocupação
desses pastores em relação ás multidões consistia em que elas se mantivessem
fiéis ao culto (sacrifícios) ao templo,
oferecendo seus sacrifícios, cumprindo os ritos, etc. Obviamente, com aparência
de zelo pelo culto a Deus, no entanto, estavam preocupados apenas com a
manutenção de seu poder e de suas fortunas. As ovelhas eram para eles grandes
novelos de lã e pedaços de carne, lucro certo. A riqueza dos sacerdotes era
mantida à custa da espoliação e da “esfolação” das multidões, levando-as à
exaustão.
Sobretudo, as multidões estavam sem rumo em dois
aspectos: primeiro porque os que ainda seguiam estavam seguindo
lobos-mercenários e não pastores. Segundo porque as multidões que em nada mais
criam já não tinham mais quem seguir. Porque se Deus é de fato como seus
representantes, então deus é o diabo e a melhor coisa é ser ateu.
Saduceus são pastores mercenários, pastores
mercenários são como saduceus. Não têm compaixão das multidões. Olham para as
multidões e enxergam riquezas e poder. Se preocupam em saber se as multidões
comparecem aos seus cultos, se cumprem com seus ritos. Preocupadíssimos com os
dízimos e as ofertas, afirmando o que Jesus não ensinou, reavivando jugos que
foram mortos na cruz. Usam o nome de Deus como “garoto propaganda” e as bênçãos
como produtos. Para estes, o crescimento
do Reino equivale ao domínio de suas organizações religiosas sobre as massas.
“Que venham as multidões!” eles alardeiam. Não cessam de tramar o mal em nome
de Deus. Vestem sua ganância de piedade. Oram: “Deus, nos abençoe enquanto
tratamos das coisas do teu Reino”,
hipócritas. Quando foi que seus ventres passaram a exprimir a vontade de
Deus e não somente suas próprias volúpias. Olham para as multidões e vêem nelas
todos os recursos necessários para a manutenção de suas estruturas de poder.
Para eles as multidões são meios de vida e não aquelas por quem eles deveriam
dar a vida. Ah, mercadores da morte, o Reino vem!
As multidões estão cansadas... eu estou cansado. Bendito seja o Senhor restabelece nossas forças na Verdade. Cura nossas
feridas e nos liberta pela Verdade porque tem compaixão de nós.
Nele que é o pastor dos cansados,
Timóteo
“Pois eu sei que meu redentor vive e que por fim se levantará sobre a terra!”
(falarei ainda como os fariseus, escribas e herodianos olham as multidões)
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