a revolução silenciosa do evangelho

"Disse mais: A que compararei o reino de Deus? É semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até ficar tudo levedado." (Lucas 13.20-21)


Jesus está fazendo uma comparação, está explicando algo espiritual por meio de uma imagem extremamente singela, que é a imagem do fermento na massa. Algo que seus ouvintes conheciam  muito bem, pois o processo de produção do pão era de conhecimento comum por se tratar de um alimento básico naquela cultura. De maneira que, Jesus compara o reino de Deus ao fermento que era aplicado a massa para que esta crescesse por meio da fermentação alcoólica (levedo).

Com esta comparação o Senhor nos dá três percepções básicas a respeito do reino de Deus.

A primeira é que o reino está em ação! O reino de Deus é ação processual, bem como a do fermento na massa. E como o fermento, a ação do reino, em seu desenvolvimento, não é de aparente visibilidade, assim como não se percebe a ação do fermento na massa. Sendo perceptível apenas quando o processo já está em avançado curso, quando a massa já está levedada, crescida. O reino em sua ação não é visível pois não se dá pelas vias do poder, das mega estruturas religiosas, das grandes concentrações de fé, ou dos grandes movimentos sócio-religiosos. "Não vem com visível aparência", diz Jesus, não sendo possível localizá-lo geograficamente. Isso porque a ação do reino se dá "em vós".  Ou seja, a dinâmica do reino se dá no ambiente da consciência humana, individual e coletiva. O reino age em pessoas, nas comunidades humanas. Pessoas sendo fermentadas por novas percepções, por uma nova consciência que cresce pela ação da verdade do Evangelho. Gente que tem cresce em compreensões da verdade. Gente levedada, embriagada pelo Evangelho. Até porque "reino" é apenas uma palavra, um recurso de comunicação para expressar a realidade  da totalidade do universo, elementos visíveis e invisíveis, sob a iluminação do Senhor. João descreve esse estado de coisas, o "reino" (a Nova Jerusalém), da seguinte forma : "Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo Poderoso, e o CordeiroA cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada." (Ap. 21.22-23). Reino é gente iluminada por Jesus. E, gente iluminada por Jesus se torna santuário do Altíssimo, não precisa de templos, estruturas religiosas, porque a próprio ser foi feito casa de Deus no qual o culto não cessará jamais. E casa vez mais iluminados pela Verdade, mais luz nos tornamos, não andamos mais em trevas, amamos mais. Gente iluminada é gente que, mediante a simplicidade do Evangelho passa a discernir os próprios caminhos, os processos da alma, os enganos, as ansiedades, as compulsões e vai sendo liberto das trevas que lhe habitam o ser, até que tudo seja luz, verdade, até que Jesus seja "tudo em todos", para que "Cristo viva em mim".    

Segunda percepção é que a ação do reino, que é a iluminação do ser na Verdade, liberta as pessoas das prisões religiosas em suas mecânicas e dinâmicas adoecedoras. A ação do reino em nós nos liberta das cadeias da religião. Jesus ensina a respeito da ação do reino em meio a intensos debates contra os líderes religiosos (escribas-fariseus e saduceus-classe sacerdotal). Visto que Jesus afirmava a todo o momento com seus atos (curas no shabat) e palavras que a tradição doutrinária-teológica religiosa judaica nada tinha a ver com o Altíssimo, eram apenas cadeias sob os auspícios dos líderes religiosos. E o que impressiona é que as pessoas simples ouvem Jesus e compreendem suas palavras e seus sinais. Não só como concordância intelectual a conceitos mas, como consonância de percepções e verdade que lhes eram próprios, "admiraram-se porque ensinava com autoridade, não como os escribas e fariseus". É como se eles dissessem: "É isso! Sempre pensei assim, sempre achei que fosse assim!". Jesus expõe de modo claro, simples e direto tudo aquilo que as pessoas já tinham como sentimentos e percepções da fé, isso porque o reino sempre esteve em ação, o Espírito jamais cessou de sustentar a criação, nem de visitar as consciências humanas porque Deus dá testemunho de Si de diversas maneiras, desde sempre (Sl 19). No entanto, essas pessoas simples não tinham condições de afirmar frente ao sistema de condicionamentos religiosos, sob o qual viviam, as verdades e as iluminações que as possuíam. 

Sabiam que fazer o bem cabia em qualquer espaço-tempo, no entanto, cediam à tradição que afirmava que não se podia ser curado no sábado (Lc 13.10-17; 14.1-6). Mas, "Jesus está aqui, ele cura no sábado, então eu estava certo". As pessoas tinham a percepção de que seu modelo religioso-farisaico consistia em teatralizações que não produziam misericórdia no coração, todavia, cediam às suas seduções. Até que Jesus se assenta no meio deles e lhes denuncia a hipocrisia (Lc 14.7s), então deixam de se impressionar com as performances de "santidade" . Isso acontece até nossos dias, pessoas que foram irremediavelmente atingidas ação do reino, mas que, no entanto, em virtude dos condicionamentos religiosos desacreditam da verdade em suas consciências por conta dos condicionamentos religiosos. Essas são as pessoas que, atingidas pela verdade vivem em crises profundas em relação às incoerências do contexto religioso em que estão. São as pessoas que sentem um 'mal estar' inexplicável em relação ao seu contexto religioso. Uma vez que, estão caminhando em direção à Verdade que as libertará por completo. Gente que quando ouve o Evangelho parece estar ouvindo, pela primeira vez, uma música linda, que ouviu na infância e que aos poucos vai se lembrando da melodia e da letra. Isso porque o reino está em ação libertando consciências sem que percebamos.      

Terceira e última percepção a respeito da ação do reino é que ela é irreversível. Uma vez atingido pela verdade não é possível voltar atrás. Tendo tomado a "pílula azul" acabam-se as "matrix" dentro e fora do ser. O fermento uma vez na massa não é possível interromper sua ação. Bem como não é possível interromper a ação do reino em nós. Sendo atingidos pela verdade caminhamos de libertação a libertação, de consciência em consciência, de "glória em glória", até que cheguemos à "estatura de Cristo". Um sem número cada vez maior de pessoas tem sido "contaminadas" por esse fermento de Jesus. Tendo suas mentes dilatadas pelos processos de levedura do Evangelho da Verdade. Esses, jamais serão os mesmos. Pois, mediante a Verdade, assumirão a caminhada proposta por Jesus, ou contra a verdade, manter-se-ão inertes, aprisionados. Cada um é julgado por sua consciência, ninguém é julgado pelo que não sabe. Nós seremos julgados por tudo aquilo que recebemos como revelação da ação do reino e o que fizemos dessa iluminação. Mas, de qualquer forma, o processo é irreversível. 

Que cada um caminhe de acordo com a ação que o reino tem realizado no ser, nem mais, nem menos. Que seu 'sim' seja sim, e o seu 'não', não. O que passa disso é engano na alma.

Timóteo 

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