será que você conhece a Jesus mesmo?

Paulo diz que, se antes conhecera Cristo e tudo mais segundo a carne, agora, (depois de tornar-se nova criação) já não era mais assim (2 Co 5.16), pois a fé que o atingira conferia a ele uma nova consciência. Sim, pois o Evangelho gera no ser uma nova consciência, ou seja, todas as categorias de percepção, interpretação, conhecimento, vontade, tudo é mudado, o centro intelecto-emocional da vida muda, a mente se abre para outro mundo no qual a realidade que se descortina diante dos olhos é totalmente outra fundamentada na cruz de Jesus. Trata-se de um renascimento radical da consciência de modo que o olhar sobre a humanidade, sobre si mesmo e sobre Jesus mudam por completo. A questão é que essa operação que o Espírito opera na consciência (o novo nascimento) se dá pela fé na morte e ressurreição de Jesus, a fé na cruz de Cristo. Contudo, no cristianismo (a religião que se vale do nome do Cristo), a cruz de Jesus foi esvaziada de seu sentido, despojada de sua graça escandalosa. E, em assim sendo, todas implicações e significações da cruz foram relativizadas. De modo que, o que os cristão conhecem a respeito da morte e ressurreição de Jesus nada mais é do que um conhecimento "carnal", fundamentado em doutrinas humanas sem poder algum sobre a consciência humana. 

Passo a demonstrar como esse conhecimento "carnal" da cruz de Jesus se manifesta no discurso cristão. Veja você mesmo se seu conhecimento de Cristo não é meramente "carnal".

No cristianismo a cruz é uma doutrina a ser tratada dentro do contexto soteriologia ou da cristologia (áreas da teologia sistemática que estudam as doutrinas da salvação e de Jesus, respectivamente). Sendo que, com muito poucas variações o discurso é o de que: Jesus morreu por você, em seu lugar, para perdoar seus pecados para que você seja salvo e tenha a vida eterna. Sendo assim, diante disso, da morte de Jesus em seu lugar, você precisa tomar uma decisão, aceitar ou não essa oferta generosa de Jesus. Imagine, é com se Jesus estivesse suplicando a cada ser humano: "me aceite! me aceite! Eu fui torturado por você, morri por você, deixa eu ser seu Deus, por favor! De maneira que, quem se deixa sensibilizar por esse apelo sôfrego de Jesus e disser: "tudo bem Jesus, já que tu sofrestes tanto por mim, eu deixo que você seja meu Deus.", é salvo. Então os pregadores do "evangelho" procuram sensibilizar as pessoas a essa causa dolorosa do Messias implorador. Outros apelam à razão mostrando as várias facetas da doutrina da cruz, a justificação, a substituição,  a redenção, etc. Mesmo os calvinistas (que julgam que Deus já predestinou os que aceitariam o sacrifício da cruz), na prática, trabalham para sensibilizar os que já são predestinados, vai entender... 

O que se dá em seguida é que, uma vez sensibilizado, havendo consentimento emocional e intelectual à mensagem:"Jesus morreu por você, deixe ele ser seu Deus", decorre que "deixar Jesus ser seu Deus" na prática significa incorporar à sua vida práticas religiosas e comportamentais novas. Significa que agora você irá fazer parte de um grupo religioso, participará de suas atividades e irá se comportar de acordo com a moral do grupo. E claro, o mair importante, irá se esforçar em ser outra pessoa, uma "nova criação" para pagar o que Jesus fez por você! Afinal de contas, você aceitou!

Essa é toda a profundidade do "evangelho", seja, dos cristãos católicos, dos evangélicos protestantes, pentecostais e neo-pentecostais. Um "evangelho" desprovido de poder, é só uma história cheia de perspectivas teológicas, mas que não promove novidade de consciência. No máximo adestra o comportamento. Isso é conhecer o Cristo segundo a carne. 

Todavia, o Evangelho, é poder de Deus, não palavras! Pode ser resumido no grito de Jesus na cruz: "Está consumado!". O que está consumado? Tudo! Na cruz "Deus reconciliou por ele (Jesus) e para ele todos os seres, os da terra e os do céus, realizando a paz pelo seu sangue na cruz." (Colossenses 1.20). Entenda, A cruz de Jesus é o fim de toda a antiga criação marcada pelo pecado em sua morte, mais do que isso, a cruz de Jesus é a "nova criação" de todas as coisas, pois ele ressuscitou. A cruz e Cristo é a "nova criação" de todas as coisas. Tudo foi "reconciliado" na cruz. Tudo foi feito do novo, o ser humano, as realidades visíveis e invisíveis foram todas postas sob o domínio irrestrito de Jesus, "porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis: tronos, soberanias, principados e autoridades, tudo foi criado por ele e para ele", ainda, "tudo pôs debaixo dos seus pés". 

Ora, todas essas coisas, foram terminadas, consumadas, desde antes da fundação do mundo, pois se diz que "o cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo", ou seja, a cruz é o fundamento no qual todas as coisas subsistem. E "descansou Deus no sétimo dia e viu que tudo era bom", toda a "nova criação", tudo está consumado desde a eternidade! Mistério revelado na história em Jesus, contudo, a cruz é o fundamento único e eterno de tudo o que existe. Deus não consultou o ser humano, o cordeiro não consultou o ser humano para saber se ele aceitaria ser criado. Ele criou. De modo que, a cruz, não é um plano "B" que Deus recorreu por conta do pecado. A cruz é e sempre foi o único plano da criação, seu fundamento. 

Não se trata da mensagem de um Jesus que sofreu e pede a sensibilização das pessoas. A mensagem do Evangelho é a boa notícia de que todas as coisas e pessoas foram criadas na cruz para a vida eterna.  Assim é desde a eternidade, e é esta consciência que, em se instalando no ser promove uma consciência nova, um novo ser. Pois passa a ser enxergar como de fato foi feito, reconciliado, "nova criação", liberto dos poderes do pecado e da morte.

A cruz não é uma historinha, não é uma teologia, uma doutrina, é o princípio, e o fim de tudo o que existe. A cruz é o centro do universo visível e invisível, cujo poder garante que fomos transformados, estamos sendo transformado e seremos plenamente transformados à imagem de Jesus, plenamente humanos quando ele vier. Ela é a convergência de todos os tempos, dimensões e possibilidades temporais e atemporais, tudo passa pela cruz, todas as coisas estão submetidas a ela. Trata-se de uma realidade. Creia e veja, "se creres verás a glória de Deus". 

Se você crê que é assim, então já pode contar com o poder do Espírito te dando nova consciência sobre todas as coisas, libertando a vida dos poderes escravizadores do pecado, sedimentado certezas e seguranças eternas que curam a alma e que nos constrangem, nos impelem para uma nova vida.

Timóteo

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