a grande fraude

Jesus, ao entrar no templo, uma semana antes de ser crucificado, recepcionado pelo canto das crianças: "hosana, Filho de Davi!", que, sem cerimônia nenhuma, nem pudores teológicos, discerniam em Jesus de Nazaré, o Messias. Os principais dos sacerdotes e os ancião culpam as crianças de heresia, espumam pelo canto da boca, querem calá-las, mas, elas tem um álibi, a "ignorância infantil". Os líderes religiosos direcionam sua fúria ao tema das canções, Jesus, que, confrontado pelos líderes religiosos, após expulsar cambistas de vendedores do templo (funcionários do sumo sacerdote - a "máfia da templo"), conta duas parábolas nas quais revela aos seus ouvintes realidades estruturais do contexto religioso que são extremante importantes para nos levar à liberdade na consciência do evangelho. As parábolas foram documentadas por Mateus, o publicano, no evangelho que leva seu nome, no capítulo 21.23-46. Primeiro, ao ser questionado com que autoridade ele, Jesus, expulsara os vendedores e cambistas, Jesus propõe aos sacerdotes e anciãos uma questão simples: "Eu vos farei uma pergunta se me responderes então direi com que autoridade faço o que faço: A autoridade de João era dos céus ou dos homens?" Os líderes se calaram, pois se dissessem dos céus se auto condenariam como incrédulos, pois não haviam se submetido ao arrependimento de João Batista. Nem poderiam crer, pois João era de linhagem sacerdotal, deveria ocupar a função, sucedendo seu pai quando tivesse idade, no entanto, foi chamado por Deus para ser profeta, no deserto, fora das circunscrições da religião institucional judaica, para denunciá-la. Jesus diz a respeito dele que ele trouxe a "via reta", ou seja, o "caminho da justiça", o caminho da salvação. Um caminho que passava pelo deserto e pelo rio Jordão, mas, não visitava as salas do templo, posto que Deus já não se encontrava lá, mudara de casa, estava no deserto. Sendo, portanto, João, seu porta-voz autorizado e não os principais sacerdotes e anciãos (fariseus e saduceus). E, por último, significava dizer que a salvação, o caminho de Deus para Deus não se dava mais por meio da religião e de suas mecânicas, mas por meio do arrependimento em vista do Reino que se aproximara na pessoa do Messias anunciado por João: "eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo". A autoridade de Jesus, o caminho Jesus, é da mesma natureza, não passa pelas vias da religião, nem de "sacerdotes autorizados". 

Com essa proposição Jesus fazia desmoronar as pedras do templo, desmantelava todo o sistema religioso judaico, anunciando a verdade óbvia: Deus nada tinha (e não tem) a ver com aquela (ou qualquer outra) estrutura religiosa (judaísmo, cristianismo... quaisquerismos), destituindo toda a autoridade e poder dos líderes religiosos. Por outro lado, se dissessem que a autoridade de João era "dos homens", se posicionariam contra o povo que considerava João profeta. Então, se calaram. 

Jesus, lhes conta então, a primeira parábola: "Mas, que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer." (Mateus 21.28-32) Com esta parábola Jesus declara: "Líderes religiosos, vocês estão sofrendo de um profundo auto engano! Não se enganem, vocês nunca estiveram, não estão e não estarão no Reino. Pois estão trilhando outro caminho, o da religião. Um caminho que vocês rotularam com nome de "caminho de Deus". Não se enganem!"

Na segunda parábola (Mateus 21. 33-39) Jesus afirma com todas as letras que os líderes da religião e toda a estrutura religiosa nada mais é do que uma grande fraude. Pois, segundo Jesus, o sistema religioso tomou, por usurpação, o nome de Deus e seus símbolos. Um sistema que fala em nome de Deus como se fosse seu representante credenciado, autorizado. Que se fundamenta em sua produção teológica para fundamentar a fraude. Eis o que é tradição religiosa. O castelo teológico de que tanto se orgulham católicos e protestantes, nada mais do que construções fraudulentas, produções pseudo-filosóficas de manutenção de uma estrutura de poder que se vale do nome de Deus e de seus símbolos . A instituição que se auto denomina "igreja", a liturgia (que chamam "culto a Deus"), os mecanismos psicológicos de manipulação espiritual (que chamam fé), e tudo mais - estruturas de engano, construções fraudulentas. Deus não está neste caminho. 

Para facilitar a compreensão: "Havia uma cidade dividida por um rio caudaloso, um benfeitor construiu uma ponte unindo os dois lados. Antes de morrer, o benfeitor, em testamento, declarou a ponte 'bem público'. Contudo, seus filhos, ocultaram a verdade do testamento, forjaram documentos falsos que dava a eles direito sobre a ponte. Estabeleceram pedágio para quem atravessasse de uma lado a outro. Todos os que, descobrindo a verdade, reivindicaram a gratuidade da travessia foram mortos... Na entrada da ponte, de um lado e de outro, puseram uma placa em homenagem a seu pai: 'o Gracioso Benfeitor' -, e isso lhes garantia o sono tranquilo do auto engano."  Jesus é o caminho, a religião estipula as leis teológico-rodoviárias e é claro, o pedágio.

Não fiz aplicações diretas para nosso contexto "cristão"... posto que, Jesus é muito simples, a verdade é óbvia para quem não se vale do engano. Mas, no próximo texto descreverei a via histórica da 'grande fraude' o 'cristianismo', a religião que se estabelece em nome de Jesus (catolicismo, protestantismo, evangelicalismo...).

Timóteo 



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