quem tem medo do juízo final?

Um dia... Num lugar... Diante dum trono a humanidade toda... Deus nele, com um cetro na mão, destinando pessoas ao céu ou ao inferno, dependendo do que fizeram em suas vidas. Essa é mais ou menos a imagem que se tem do juízo final. Isso muito por conta da imagem que Jesus utiliza para explicar o julgamento, de acordo com o evangelho de Mateus 25:31ss; no qual Jesus separa "as ovelhas" a direita, para a vida eterna, e "os cabritos" à esquerda para o "tormento eterno". A maioria das pessoas toma essa imagem que Jesus cria para explicar a natureza do juízo como sendo literal. O que, sob todos os aspectos é, no mínimo, um equívoco. É só pensar um pouco e você verá que tomar essa imagem literalmente chega a ser ridículo. Pense: Primeiro, como reunir a humanidade toda, num só lugar? Segundo: quanto tempo demoraria esse julgamento (retire já sua senha)? Terceiro: como reunir vivos e mortos para serem julgados? Alguém poderia dizer, mas isso não será na terra, será no céu. Eu diria: Ok! O céu que você diz é a eternidade? Sim. Ok. Eternidade implica numa dimensão que NÃO corresponde ao espaço/tempo certo? Então o juízo não pode se dar num lugar, não há, portanto, referência de "direita" e "esquerda". Tampouco pode haver uma duração (tempo). Até porque, mesmo fisicamente, o tempo não é absoluto, não é o mesmo para todos, avaria de acordo com o deslocamento de cada corpo no espaço.  Intrigante que toda teologia a respeito do julgamento, e boa parte da escatologia (doutrina das "últimas coisas") e soterologia (doutrina da salvação) repousam sobre essa imagem do julgamento como sendo algo literal. Portanto, julgamento é algo que carece de compreensão.

O que é o Grande Julgamento? Jesus afirma:

"Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo, que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, concedeu ao Filho ter vida em si mesmo, e lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para  ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo."

Primeiro, Jesus é o Grande Julgamento. De modo bem resumido, isso porque a ressurreição de Jesus significa a presença da vida eterna irrompendo no mundo dos mortos. O Reino nos foi aproximado (Marcos 1.15), chegara o "Dia da Salvação", que é também o "dia do Juízo"; o dia do cumprimento das promessas feitas aos "antigos". Simeão profetiza a respeito de Jesus: "este menino está destinado tando para a ruína como para o levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição, para que se manifeste os pensamentos de muitos corações." (Lucas 2:34ss). "Deus o constituiu juiz de vivos e de mortos" (Atos 17:31). Ou seja, a presença de Jesus e seu testemunho de vida eterna, da luz, faz separação entre mortos e vivos, luz e trevas, justos e injustos. Isto é julgamento, separação, discernimento entre uma coisa e outra, entre vivos e mortos (vide as parábolas de Jesus). Ou seja, julgamento já está acontecendo desde a presença de Jesus no mundo; vem a hora e já chegou! O Grande Julgamento, portanto, não se dará, se dá hoje.

Segundo: o juízo se dá em relação ao testemunho do Filho, a Palavra de Jesus é o critério do julgamento, quem crê já passou da morte para a vida, quem não crê permanece sob juízo e condenação. Posto que o testemunho é esse: "Deus nos deu a vida eterna e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida." (I João 5.11-12). Imagine um barquinho de pescadores, que sai para pesca num dia tempestuoso, (fazem sabendo que não deveriam fazê-lo), e  que agora, está afundando, solapado por fortes ondas. Um barco da guarda costeira avista a situação, faz contato e avisa que em instantes irá abordar o barquinho para salvação da tripulação. Em alguns instantes, o barco salva vidas se atraca ao barquinho, estende pontes e escadas, botes, boias, para resgate da tripulação do barquinho. Algumas pessoas, ao avistar a salvação correm para o barco salva vidas. Outras, curiosamente, ao verem o barco da guarda costeira, simplesmente não entram nele, pois não creem ser esse o barco prometido. Imaginavam outro e aguardam por esse "outro" que corresponda às suas expectativas. Evidente que essas pessoas aplicaram sobre si mesmas juízo, condenaram-se.

As pessoas falam de Jesus, dizem crer nele, contudo, não querem ir a Ele para ter vida eterna, preferem seus sistema teológicos a crer no testemunho do Filho. Não creem no seu testemunho: Ele é a vida eterna, quem  crê no Filho tem a vida eterna, já passou da morte para a vida. Portanto, já passou pelo julgamento. Quem crê já tem a eternidade. Quem não crê permanece em condenação. Ou seja, não se trata mais de uma questão escatológica, posto que a escatologia (as últimas coisas) foi realizada. "Hoje se cumpriu diante de vós a Escritura que acabastes de ouvir" (Lucas 4:21). Essas palavras ainda são extremamente escandalosas aos ouvidos dos religiosos, pois desconstrói todo seu sistema teológico fundamentado numa escatologia do medo. 

Ora, se o "último dia", "as últimas coisas" é Jesus, porque Jesus é tudo. Logo, o juízo é existencial, ou seja, se dá agora, na vida. Pois, Jesus é tudo hoje, já, agora. O julgamento não se dá num futuro pois o futuro é Jesus. Jesus é presente passado e futuro. Jesus é tudo!

Terceiro e último: Jesus é a ressurreição. Jesus é a eternidade. Jesus é tudo. Se você não crer, não entenderá o que é "condenação eterna", tampouco, "vida eterna".

 "Os que tiverem feito o bem para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para ressurreição do juízo". 

Jesus é a ressurreição, logo, a ressurreição é uma só: é uma pessoa. A diferença, portanto, se dá quanto ao posicionamento frente a Ele, frente a ressurreição. Ou seja, Jesus é a referência do que é condenação e salvação. Posto que, praticar o bem é crer em Jesus. Praticar o mal é não crer no testemunho de Jesus. Não crer que ele é a ressurreição e a eternidade. Pois, antes estávamos todos imersos no mundo dos mortos. No barquinho em naufrágio. E, no mundo dos mortos não há ninguém que produza vida, portanto, enquanto no mundo dos mortos ninguém fazia o bem. O único bem que um morto pode realizar é correr para vida, ressuscitar. Crer. De modo que, praticar o mal é continuar morto! Sendo assim, ressurreição eterna e condenação eterna são condições de existência diante de Jesus, a Ressurreição. Ressurreição para a vida eterna é crer em Jesus. Ressurreição para condenação eterna é não crer, permanecer na morte. Posto que, em breve,  ao fim do "tempo da graça", quando a vida for absolutizada, a morte não mais existirá. Será destruída. 

"Então o inferno não existe?", é sempre a pergunta que me fazem os religiosos... tendo nos olhos um misto de descrença e raiva, como que me colocando na galeria dos hereges. Antes eu respondia e explicava tudo novamente, mas, não mais... Só direi daqui em diante: Existe, mas, não é o que você pensa. Não é um lugar, não é um tempo. É descrença. Portanto, creia em Jesus. Creia que Jesus é tudo. A ressurreição, a vida, a eternidade, o passado, o presente e o futuro. Ele é o Eu Sou! Cada um está sendo julgado de acordo com sua própria consciência.

Eu conheço a quem prego. Você sabe no que crê?

Timóteo

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