o desenvolvimento da identidade em Jesus: o processo

Estamos falando a respeito do desenvolvimento da identidade humana em Jesus a partir do texto de Marcos 7:31-37. O primeiro passo do desenvolvimento foi a "singularidade" (ver: O desenvolvimento da identidade em Jesus: a singularidade). O segundo passo ensinado por Jesus é:  o processo. Veja:

"pôs-lhe os dedos nos ouvidos" (v.33b)

E a questão é por quê? Para quê Jesus faz isso? O Senhor poderia apenas curá-lo com um toque, uma palavra, um olhar ou mesmo à distância. Contudo, Jesus realiza uma série de comunicações simbólicas por meio de códigos não verbais antes de que aquele homem viesse a ouvir e falar. Por quê?

Porque formação da identidade requer processo. Preste atenção: acura não está no "Efatá", Jesus expressaria nada verbal se o homem já não tivesse ouvindo, pois, não estabeleceria comunicação, seria apenas "palavra mágica" e Jesus não age por mágica. A cura está no processo. Jesus está nos ensinando que a formação identidade humana está no processo do desenvolvimento mediante os passos que ele mesmo demonstrou na cura desse homem em Sidom. 

No entanto, para maioria de nós a formação da identidade se dá como que por "mágica". Achamos que ela simplesmente acontecerá. Pensamos que se dermos comida e roupa para nossos filhos está tudo resolvido. Ou se garantirmos uma boa escola, se os inserirmos em cursos, esportes, então serão bem sucedidos na vida. Poderemos até formar bons profissionais, pessoas bem qualificadas, mas, não pessoas plenas, realizadas, não formaremos seres humanos. Não formaremos gente como Jesus. E o objetivo da vida é justamente esse, pessoas sendo formadas à imagem de Jesus. Fomos feitos, nascemos para sermos imagem e semelhança de Jesus. Gente feliz: pacificadores, sedentos por  justiça, puros de coração, mansos, pobres de espírito (ensináveis por Deus), amantes da verdade. Gente que faz pelo outro como gostaria que fosse feito a si mesmo. 

E então alguns fazem campanhas, levam a foto dos filhos na igreja, pensam que identidade se realiza por "mágica". Não, identidade em Jesus se dá por processo. O primeiro passo nós já identificamos: a singularidade. O segundo é justamente o processo, ou seja, ser referência para o outro. É isso que Jesus faz, dá referência para o homem surdo-mudo indo ao encontro da necessidade que ele tinha de uma linguagem apropriada. Jesus poderia curá-lo com uma palavra, mas, quer nos ensinar que, quando se trata de formação de identidade, isso demanda processo. Essa compreensão é fundamental por alguns motivos:

Primeiro: todos nós estamos em processo. E, em se tratando de processo, cada pessoa tem suas demandas específicas. Assim como Jesus interagiu com aquele homem em sua condição, Ele também, para nos fazer seres humanos de verdade, "desce" à nossa condição para tratar de nossas feridas, sofre conosco nossas dores, experimenta nossas aflições, vence-as para nos mostrar que podemos vencer nossos medos, dores, traumas e experimentarmos a maturidade  e a plenitude de Jesus em nós. Ao colocar os dedos nos ouvidos daquele homem Jesus está dizendo: "compartilho de sua condição, seu sofrimento, para poder curar sua ferida". Em Isaías 51 se diz que ele é "homem de dores que sabe o que é padecer e que provou em si mesmo nossas dores e sofrimento", segundo o livro de Hebreus, "provou nossa condição para que pudesse socorrer-nos". Paulo afirma em Filipenses que ele "desceu à nossa condição para nos dar vida". Para ser nossa referência de vida e vitória. E isso não é algo subjetivo, significa que ele estava conosco em todos nossos momentos de dor e sofrimento! Ele estava lá, você não esteve só! "Onde estava Deus quando fui abandonada, rejeitado? Quando meu filho morreu? Quando perdi minha esposa, minha mãe? Onde Ele estava quando fui abusado? Ou espancada?" Estava com você experimentando a mesma condição de sofrimento, abandono, desespero, perplexidade, tudo, ele estava lá. Você consegue compreender que Ele, Jesus, rejeitado com você. Foi abusado com você! Experimentou a mesma vergonha e dor. A mesma raiva e os sentimentos de revolta. Sentiu-se sujo. Maculado, roubado em sua inocência. Você consegue entender que ele estava lá, que ele passou por tudo com você. Para quê? Para que você saiba, para que aprenda com ele como vencer. Ele diz: "Eu sei, assim como doeu em ti também doeu em mim, contudo, assim como eu venci, tu vencerás também, eu sou tua referência". 

Segundo que, Jesus nos ensina que nós devemos ser referência para nossos irmãos. Nos ensina a multiplicar vida uns nos outros. Dando suporte (suportando) uns aos outros em sues processos de desenvolvimento da identidade de Jesus em nós. Mais que isso, devemos "descer" ao contexto da pessoa ao nosso lado, não para arrastá-la conosco como quem puxa o outro pelo braço e traz arrastado para depois poder dizer: "chegamos", que adianta chegar sem saúde, ou até morto. A vida não pista de corrida é caminho. Condescender significa ir ao encontro do outro e seguir o caminho dele com ele. Sofrer com ele, sorrir com ele, sentir sua dor, vencer com ele para dizer no final: "conseguimos!"

É muito comum que pais, maridos, esposas, pastores, professores que não compreendem a realidade do processo na formação da identidade machuquem pessoas de modo profundo. Pois, por não entender o momento processual do outro, exigem das pessoas ao seu lado que sejam como elas, que façam como elas e dessa forma, saem  arrastando almas pela existência, forçando pessoas, fragmentando corações. E o pior é que tudo isso é realizado sob a "capa" do cuidado, em nome do "amor". Mas, não passa de ansiedade. Exemplos: pais do tipo valentões, dinâmicos, geralmente arrebentam com filhos introvertidos e sensíveis. Pois no seu modo de ver, o filho não está se "tornando homem". No entanto, a verdade é que o filho, por ser uma pessoa diferente, não corresponde às expectativas do pai projetadas nele. E então, o pai o "arrasta" pela existência, esfola a criança, sufoca-a com suas expectativas. Quando é assim, os prejuízos são terríveis. Crises profunda de identidade, de gênero, depressão, frustração, porque o filho tenta de todas as formas atender às expectativas do pai, mas, não consegue. Sente que por mais que faça, nunca será o suficiente. Entende-se rejeitado. Passa a acreditar que é inadequado, que não tem valor. Perde a vontade de viver. Isso é muito sério gente! "Pais, não irritem seus filhos", avisa Paulo. 

Muitos pais, principalmente, sofrem, sofrem demais, porque seus filhos não apresentam os "resultados" esperados de acordo com suas expectativas e projeções, "o que estou fazendo errado"; "onde foi que eu errei"... Superprotegem seus filhos da vida, não permitem que façam suas escolhas, que tenham suas experiências. Geralmente pais que sofreram muito tendem a agir assim sob o pretexto de não permitir que seus filhos experimentem as mesmas coisas. Partem para o outro extremo, impondo eles mesmos, aos filhos, o sofrimento de que queriam poupá-los. Chamam isso amor, todavia, é só ansiedade, "complexo de deus". Aliás, se Deus fosse um "pai" à moda da terra, Jesus jamais teria ficado quarenta dias sem comer e beber, quem dirá com o diabo do lado. Tentado, nem pensar.  Morto na cruz... meu filho... jamais! É fácil confundir ansiedade com amor. Mas, saiba, o amor não agride, não fere, o amor condescende, não arrasta pessoas pela existência. O amor não forma pessoas para serem cópias da nossa personalidade, forma pessoas para serem como Jesus. Se você for como Jesus, então poderá dizer "sejam meus imitadores". É por isso que precisamos aprender com Jesus o que é amar.
  
Não só na formação da identidade dos filhos, mas, em relação a todos os que nos cercam. Estamos todos em processo. Devemos condescender uns aos outros. "Cada um deve considerar o outro em maior estima". Você pode não entender o "jeito" do outro, mas, esteja com ele, se não souber o que dizer fique calado, mas, fique.      

Formação da identidade de Jesus em nós não é "mágica" é processo no qual nós nos suportamos uns aos outros em amor.

Timóteo

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