o desenvolvimento da identidade em Jesus: o compartilhar

Este é o terceiro texto da série:"o desenvolvimento da identidade em Jesus" com base em Marcos capítulo 7:31-37, no qual se narra a cura de homem com deficiência, era surdo-mudo. Sobre esta "cura" estamos refletindo a respeito do processo de formação da identidade em Jesus com base na linguagem não-verbal que ele estabelece com o homem. Ou seja, como Jesus constrói em nós uma identidade sadia para experimentar a vida verdadeira. De maneira que, chegamos ao terceiro elemento formativo: o compartilhar.  

"cuspindo, tocou-lhe a língua"

Como já dissemos (nos textos anteriores), Jesus conduz o processo de cura com linguagem não-verbal, sendo que o ato de cuspir e tocar a língua do "enfermo" encontra correspondência com as práticas medicinais caseiras e taumaturgia da antiguidade, de "curar" por meio do toque, da saliva. Sobretudo, o ato de Jesus de cuspir e tocar a língua daquele homem reflete de muita sensibilidade de comunicação emocional e afetiva. Pois remete a uma das questões mais basilares do desenvolvimento humano que é o compartilhamento de "fluídos". A vida humana só é possível pelo compartilhamento do fluídos corporais de uma pessoa a outra.  Desde a concepção, a vida intra uterina e nos primeiros anos de vida na amamentação, desde sempre, nosso corpo e mente sabe que a vida só é possível por causa do compartilhar. A base da vida consiste no compartilhamento do que nos é mais próprio, ou seja, nós aprendemos-sabemos que a vida consiste em compartilhamento de vida. Ela só existe em compartilhamento. 

Portanto, Jesus está acessando imagens pré-natais na mente daquele homem, estabelecendo uma linguagem tão profunda quanto suas mais profundas memórias bio-emocionais podiam acessar, para dizer a ele: "estou compartilhando minha vida com você, estou lhe nutrindo para ser sadio!". De modo que, o compartilhamento é elemento fundamental no desenvolvimento da identidade humana. Compartilhar, o tempo, as experiências, emoções, afetos é compartilhar vida, pois o compartilhar é o que nutre, alimenta quem somos, para que cresçamos de modo saudável em relação à nossa identidade. Compartilhar é nutrir para a vida. Não há quem duvide de que só existe pessoa humana em compartilhamento. Todavia, o que acontece quanto esse compartilhar é insatisfatório ou inadequado? De modo geral, tenho percebido duas possibilidades que tem afetado as pessoas no desenvolvimento de sua identidade, gerando tormento emocional e muitas dificuldades afetivas, são elas:

1. O que acontece quando uma pessoa não recebe os nutrientes emocionais-afetivos necessários para seu desenvolvimento psicológico? As possibilidades, mas, vá lendo e olhando para si mesmo sob a luz do Espírito. Basta comparar o desenvolvimento psíquico ao biológico, o que aconteceria se uma mãe não estivesse ligada ao seu bebê pelo cordão umbilical, compartilhando os nutrientes necessários? Ou, se não o amamentasse? Essa situação é tão destrutiva quanto lares nos quais não há compartilhamento de afeto, experiências. Famílias nas quais não se investe tempo em compartilhar de vida, certamente é uma família disfuncional, ou seja, não cumpre sua função na formação de pessoas saudáveis. Pelo contrário, gerará gente adoecida, fraca, incapaz de lhe dar com a vida.  Lares assim geram pessoas extremamente ansiosas, que se relacionam por interesse. Pessoas que não sabem expressar afeto e sentimentos, por isso vivem com raiva. Gente que não consegue conversar direito, não terminam frases, tem medo de falar, acham que o que dizem não tem importância, enclausuram-se, tornam-se egocêntricos e egoístas. Não gostam de falar de si mesmos, não sabem. Perguntas simples os deixam em desconforto, sentem-se invadidos. Geralmente vivem vidas duplas, triplas, nas sombras. Seus relacionamentos duram enquanto forem superficiais, horas, dias. Pessoas que  não foram nutridas emocional e afetivamente de modo adequado certamente terão dificuldades em relação à sua sexualidade, desde vícios sexuais a homo-afetividade. 

Do mesmo modo, o casamento também e um ambiente de compartilhamento, todas as relações sociais, para que sejam sadias e produzam vida precisam ser regadas de "uns para com os outros", caso contrário tornam-se ambientes adoecedores.

Como tratar: Primeiro, perdoe quem lhe faltou ou negou o que lhe era necessário. Segundo, saia da escuridão, ponha-se sobre a luz da Verdade. Traga seu ser e seus relacionamentos para Luz.

2. O que acontece quanto os nutrientes recebidos não são adequados? Por exemplo, é muito comum que casais com problemas, tendo filhos, façam dos seus filhos uma válvula de escape. Pais e mães que fazem dos seus filhos inconfidentes, "psicólogos", para quem desabafam, reclamam, choram... Estão compartilhando conteúdo inadequado. Quem é que prepara uma feijoada para um bebê? Pois é, a situação é a mesma. A criança não tem estrutura para lhe dar com as questões dos adultos ainda. Por isso, mesmo as discussões entre os pais devem ser reservadas, resolvidas entre adultos. Quando uma criança é tomada por "psicólogo" dos pais, ela está tendo sua infância dilacerada, roubada. Você está violentando seu filho, sua filha. Esses filhos, já na adolescência, reclamaram a preço de raiva, rebeldia e depressão o preço da infância roubada. Amadurecerão rápido demais, se sentirão velhos antes do tempo, com a alma cansada, o coração fatigado, sem ânimo para a vida. Sentir-se-ão inadequados em relação à sua faixa etária, buscando círculos de amizades com pessoas mais velhas. E, (ou) buscarão se relacionar com pessoas "problemáticas". Certamente terão maior probabilidade de desenvolverem relações adoecidas e co-dependência, acreditando que precisam ser a "âncora" de alguém para viver. Chamo de "identidade de bote salva vidas", gente que se acha a última opção de salvação do mundo. São aquelas pessoas que dizemos ter o "dedo podre" para relacionamentos, a verdade, é que elas escolhem gente problemática, cercam-se delas, para ter sentimento de identidade. Fatalmente perderão a vida em relacionamentos problemáticos e infelizes.      

Como tratar: Primeiro, perdoe aqueles que violaram sua infância. Segundo, permita-se ser cuidado. 

Jesus compartilha conosco seu Espírito para que tenhamos cura e vida, peça ele lhe dará.

Timóteo

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