Predestinação


Predestinação, ai está uma palavra que faz alguns suarem frio por conta do fetiche teológico que a envolve. Por conta das arquiteturas teológicas construídas em torno dela. Predestinação certamente é um dos ensinos mais importantes da fé cristã, contudo, também um dos menos compreendidos, justamente por conta do estelionato espiritual teológico que transformou esse ensino dinâmico num castelo teológico engessado. Muitas pessoas passaram até a desconsiderar os textos que fazem alusão ao tema. Por isso gostaria de ajudá-lo (a) e animá-lo (a) a voltar a meditar sobre esses ensinamentos eternos com a simplicidade do olhar do Evangelho.

Com relação à predestinação, Paulo nos ensina que:

Primeiro, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos predestinou: Efésios 1:5; 11-12; Rm 8:28-30. Paulo se utiliza da palavra proorizo para descrever essa ação do Pai. Proorizo é uma palavra grega formada por duas outras palavras: pro (preposição primária: pré, antes) + horizo (verbo que significa “definir”, “determinar”, “marcar fronteiras ou limites”) da qual se deriva a palavra portuguesa “horizonte”. De modo que proorizo é a pré-delimitação, o pré-balizamento de algo. Indica, portanto, o fundamento de um algo, as suas referências basilares, sua moldura. Em última análise, indica a natureza de algo.

Predestinação, portanto,  esse pré-fundamento nunca é algo em si mesmo, ou seja, a questão não é se somos ou não predestinados (que é a discussão teológico-doutrinária), a questão é em quê somos predestinados, ou melhor, em quem somos predestinados. Predestinação se refere a um princípio espiritual de natureza e não a um fim escatológico. O pai nos fundamentou em seu amor (Ef 1:5), e essa é uma declaração de Paulo que se refere à nossa natureza, ao fundamento da nossa fé. Jesus explica a mesma coisa ao afirmar que estamos arraigados Nele, sendo ele a Videira e nós os seus ramos, ou seja, estamos arraigados, pré-destinados Nele. É o mesmo que compreender que Jesus Cristo é a “pedra fundamental” da igreja.  Ou ainda é o mesmo que dizer que Cristo é a “cabeça da igreja”, o Bereshit de todas as coisas (Bereshit, primeira palavra da Bíblia, traduzida para o português por Gênesis. Bereshit é: be [preposição “em”] + rosh [“cabeça”]), na cabeça da criação está o Verbo eterno (Gen 1:1; João 1:1-3). Ele é o fundamento, a base e o princípio de todas as coisas. O que faz dele Senhor de todas as coisas. Pois sendo ele o Princípio, todas as outras coisas que vem depois tem de estar adequadas, justificadas à base que é Ele. De modo que, tudo o que estiver desalinhado ao fundamento desmoronará. Por isso o trono do Cordeiro e do Leão está posto no centro de tudo o que existe e julga todas as coisas. Por isso também a mensagem do Reino de Deus é central.

Segundo que, Paulo diz em Efésios 1:5 diz: “nos predestinou em seu amor, para a adoção de filhos, em Cristo”: O Pai nos fundamentou em seu amor. Nossa natureza é amorosa. De modo que na amamos por causa do mandamento, mas porque essa é nossa natureza.

Terceiro, Ele nos deu sua natureza, pois Ele fez de nós: filhos. De maneira que se Ele é misericórdia, nós somos misericordiosos. Se Ele é paz, nós somos pacificadores. Ele é amor, nós somos perdoadores. Ele é justo, nós nos fazemos irmãos dos nossos inimigos. Ele é o bom Pai, nos somos alegres. Essa é nossa natureza. Nosso fundamento.

Paulo diz ainda (Ef 1:11-12) que Ele nos predestinou: “de acordo com Seu propósito,..., para sermos para o louvor da Sua Glória”, e a glória de um Pai é que seus filhos sejam a expressão exata de seu ser, este é o propósito da relação da paternidade e da filiação. Que o Pai transmita ao filho tudo o que lhe é próprio e que o filho se torne (herde) tudo o que o Pai é. Sendo assim, o fundamento da nossa expressão existencial é a semelhança com o Pai. Ou seja, Ele é a moldura da nossa expressão de ser, Ele é nosso horizonte.

Em uma frase: nossa pré-destinação é Cristo Jesus. Nosso fundamento é Cristo. A moldura de nosso ser, nosso horizonte é Cristo. Nele temos a expressão máxima e a realização de quem somos desde a eternidade. Por isso que se diz que ele é nossa esperança, o alfa e o ômega. Porque Nele estamos fundamentados fomos feitos na cruz nova criação Nele e como Ele.

Agora leia Romanos 8:28-30 com a consciência limpa pela simplicidade do Evangelho e retome a alegria de meditar sobre a boa notícia da predestinação do Pai em Cristo Jesus para toda humanidade.

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