Gratidão

Em tudo daí graças, porquanto essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” 
(1 Ts 1.18) 


Ser grato é ser cheio de graça. Uma pessoa grata é aquela que anda cheia de graça. É graciosa. De modo que a gratidão independe de motivos, não é uma consequência, é a natureza do ser em Cristo. Ser grato não tem a ver com ventos favoráveis. Tampouco tem a ver com o que se tem. Mas, com o que se é. Grato, ou você é ou não. Todo filho de Deus é Cristo e Cristo é graça encarnada. Pois essa é a natureza que herdamos em Cristo, o DNA da graça. E graça é dom, presente, dádiva. Gente grata é gente que carrega em si presentes para serem entregues para quem quer que seja nos encontros mais fortuitos e nos esperados também. É, portanto, gente generosa que vive compartilhando o que na graça recebeu de graça. A gratidão enxerga o mundo como alvo de amor. Gratidão é um bom olhar para a vida. Gratidão é característica de gente madura, pois, só gente amadurecida carrega em si maior capacidade de dar do que receber. Gente grata anda cheia de alegria, pois sabe que tudo é graça, vontade, presente e propósito do Gracioso. 

Gente não grata se comporta como se tudo e todos lhe devessem algo. Gente ingrata é infantil, confunde justiça com luta por direito próprio, não diferencia direito e egoísmo, recebe dádiva como mérito, focadas sempre nas próprias necessidades, são como crianças, só pedem presentes, quando recebem não interpretam como graça, mas, como dever do mais maduro (gente madura compartilha porque é graciosa, não se trata de um dever). Gente imatura é literalmente, sem graça. A ingratidão sequestra toda alegria porque só vislumbra realização na perspectiva de contingências favoráveis. Pessoas ingratas estão sempre em fuga da própria vida, pois jamais se realizam com a vida que vivem. Sempre insatisfeitos com as pessoas ao lado, com as coisas que tem, por isso vivem fantasiando, se comparando, nunca entram de pra valer em coisa nenhuma. Até porque, para gente ingrata as outras pessoas são um meio e não um fim. O ingrato é indulgente consigo mesmo, mas, um cobrador implacável dos outros. Enfim, a ingratidão faz da vida um inferno. Ingratidão é um mau olhar para vida.

No entanto, o grato faz questão de chamar de irmão todo ingrato. Para que todo ingrato, por todo favor imerecido que do grato receba, e que receba tanto, mas tanto, que não podendo quantificar e estabelecer uma relação de troca (o que o ingrato chama de justiça) seja ele, o ingrato, esmagado em sua lógica egoísta pela consciência de ter recebido muitíssimo além do que ele mesmo considerava justo para si. E dessa forma o olhar de todo ingrato se torna gratidão, não por ter recebido algo, mas, por ter entendido que o grato deu tudo o que tinha e podia para que ele, ingrato, fosse agraciado com um novo olhar. De modo que, graça é o amor que supera minha noção pobre de justiça e direito.

Grato ao Gracioso que por sua graça me chamou de irmão e com tanto amor vence minha justiça todos os dias desde a eternidade.  

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