40 dias com o Espírito - Dia 10 - O abrigo santo de Deus

Um dia desses encontrei um pardalzinho recém caído do ninho por conta da chuva forte. Como havia gatos na vizinhança percebi que seria presa fácil se eu o deixasse ali, então o recolhi e o levei para casa. Pesquisei no Google como alimentar pássaros filhotes, o acolhi em uma caixa e assim foi. No decorrer dos dias ele se fortalecia, e dentro de pouco tempo ele já abandonava a caixa e alçava vôos desastrados pela casa. E, curiosamente sempre pousava na janela. Olhando fixamente para fora, atento ao canto dos outros pássaros que povoam nossa varanda, e do lado de cá, cantava o que parecia ser um lamento solitário. Depois de algum tempo, abri a janela, ele ainda não voava alto o bastante para sair, mas, zanzava pelo quintal e outros passarinhos vinham e o cercavam. Não demorou muito e ele voou, misturou seu canto à festa cotidiana em muitas outras varandas cercado por outros pardais. Encontrou seu lar junto aos seus. Então lembrei do salmo 84, um salmo, uma música chamada "Lugares", que começa assim: 
"Como é amável o lugar da tua morada, ó Senhor dos Exércitos!
Minha alma se consome de ansiedade pelos átrios do Senhor, meu coração e minha carne vibram de alegria pelo Deus vivo.
Até o pardal encontrou morada, e a andorinha um ninho para si, para abrigar seus filhotes, um lugar próximo ao teu altar, ó Eterno dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.
Felizes os que habitam em tua Casa, louvando-te sem cessar!
Felizes os que em ti encontram sua força, e todos aqueles que são peregrinos de coração!
Ao atravessarem o vale de lágrimas de Baca, convertem-no num lugar de fontes, como a boa chuva de outono, que, ainda o cobre de bênçãos".

Meu coração se encheu de gratidão pelos muitos Lugares Santos nos quais Ele me acolheu. Pessoas, muitas pessoas, que se tornaram refúgios. Cada uma dessas pessoas foi casa-abrigo, ou melhor, casa-amigo, no decorrer da minha jornada. Gente que me acolheu, que abriu sua casa para mim. Pessoas que me abençoaram com gentileza, palavras de confronto, olhar de acolhimento, gente que me trouxe para perto, para dentro de seu círculo mais íntimo. Gente que se fez amiga, pessoas que me abrigaram em suas casas, que me alimentaram, investiram seus recursos, tempo e vida para estar comigo. Mudaram o curso de duas vidas para estar comigo e me ensinar. Houve quem me desse sua própria cama e nela se sentou comigo, para me dizer "você precisa decidir o que caminho quer tomar na vida". Isso porque me via. E com muito amor se importou em me dar direção. Pessoas que me conferiram sentido de valor próprio, consciência de identidade pela confluência do coração nas mesmas direções. E à medida que peregrinamos juntos fui influenciado pela santidade desse amor. Meus muitos irmãos estão em mim, sou resultado dos encontros que Deus permitiu que eu vivesse. Fazer um amigo é acolher um presente de Deus. As conexões são o Templo Santo no qual, como pardais, somos acolhidos por Deus. Quando penso nas pessoas que cortaram minha história deixando de si mesmas em mim sou tomado por uma consciência de, mistério, santidade e beleza. Me curvo diante da sabedoria de Deus. Nessas santas conexões a beleza da glória de Deus se manifesta, a existência toma sentido maior. São os muitos pontos de uma trama celestial que vai se formando até que consigamos ver a imagem Dele. Vejo Deus em cada encontro, cada café, cadeira ocupada. No abraço terno, no terno ganhado. Glória a Deus nas Sua Santa e perfeita sabedoria que nos deu o que era só Seu para que fôssemos Um. Sim, nós somos presente de Deus uns aos outros para que nos tornemos genuinamente humanos. Pais, mães, esposas, maridos, irmãos, amigos que fazem da peregrinação pelo Vale de Lágrimas uma viagem por fontes de vida. Gente que cai como chuva e faz em nós sua morada, regando nosso ser, germinando vida.  Há na comunhão uma insondável riqueza. Na comunhão se expressa a multiforme sabedoria e graça de nosso Pai. Isso me impulsiona a olhar para cada conexão e relação com temor, pois estou  no Lugar Santíssimo de Deus. A beleza dessas relações geradoras de vida me inspira a ser ser abrigo santo nas intersecções existenciais que Deus me permite ter. O encontro de pessoas em amor é um culto direcionado pelo Espírito, uma verdadeira reunião pentecostal. A Igreja de Jesus é uma mesa de amigos, uma ceia. Onde estiverem dois ou mais reunidos Ele está e o pardal encontra seu lar.

Meditação

Olhe para sua peregrinação, quem foram as pessoas abrigo na sua jornada?

Manifeste sua gratidão e seu amor a pelo menos uma dessas pessoas por mês. Marque um café, mande uma mensagem, ligue, para dizer o quanto ela é importante para você. 





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