deus é ateu

"Disse Jesus: Todo poder me foi dado nos céus e na terra. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto eu vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos."

"(Disse Jesus) Ai de vós escribas e fariseus hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito, mas, quando conseguís conquistá-lo, vós o tornais duas vezes mais dignos do inferno do que vós."

Os cristãos simplesmente adoram este primeiro texto, pois lhes serve de prerrogativa para levar ao mundo sua religião. Assim como ocorreu durante as cruzadas, ainda ocorre hoje, muito embora as atrocidades religiosas em nome de Deus não sejam expressas fisicamente. Contudo, a intolerância religiosa ainda existe na alma, no inconsciente e consciente das pessoas, ela aparece sob as formas de fervor religioso, ímpeto evangelístico ou missionário, ou seja, a intolerância religiosa se apresenta no proselitismo (trazer uma pessoa para sua religião, converter uma pessoa a uma religião) a qualquer custo, mesmo que esse custo signifique dizer ao outro "nada do que você acredita presta...". Ou seja,  em última análise, a desconstrução do outro, pois nós somos nossas crenças, e desconstruir o outro é odiá-lo, matá-lo psico-socialmente.

Mas o que é então que Jesus está falando aos seus discípulos quanto lhes dá a ordem de ir ao mundo e fazer mais discípulos?

Você já observou que Jesus, em nenhuma parte dos evangelhos, se preocupou com a religião das pessoas? Você já reparou que em momento algum Jesus chamou as pessoas para irem à sua sinagoga, ou para fazerem parte da sua religião?

Imaginem a cena, Jesus falando ao povo: "eis que morrerei, e deveis todos vos tornardes cristãos. Ireis todos aos cultos dominicais."

Primeiro, Jesus era judeu. Sendo assim, foi criado e educado no judaísmo. No entanto, repudiou veementemente o judaísmo em sua época (assim como repudiaria o cristianismo hoje)

Sejamos bem claros neste ponto. Jesus rejeitou energicamente a tradição religiosa, que eram os comentários acerca da Lei de Moisés e as tradições religiosas criadas pelos judeus. Todavia, Jesus afirma que não viera para suprimir a Lei, mas para dar a ela pleno cumprimento. Mais adiante e concomitantemente à afirmação da Lei, Jesus afirma que a plenitude da Lei de Deus é o amor a Deus e ao próximo. Ou seja, o amor é a única "religião" pregada e vivida por Jesus. Mais tarde essa verdade seria expressa por seu irmão Tiago: "a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas e protegê-los do mundo." 

Ou seja, segundo, Jesus não era religioso, muito embora tenha nascido e vivido num contexto religioso. Terceiro, Jesus combateu firmemente a religião. Quarto, a linguagem de Jesus não tem preocupação religiosa, muito embora, tenha sido tomada, usurpada pela religião. Jesus é O Rei, aquele que tem em suas mãos todo o poder, seja nos céus ou na terra, poder sobre todas as coisas visíveis e invisíveis. A sua linguagem expressa a ação de um soberano, expressa a ação e os ensinamentos de Deus enquanto Pai, um pai que está ocupado em ensinar pessoas a se tornarem filhos semelhantes a ele. E não uma divindade que está preocupada em ser o deus de uma religião e que anseia que sua religião seja a única nesse pedacinho de terra cósmica.

Portanto, vão e ensinem todos os seres humanos da terra a amar como eu amei, a viver como eu vivi, para que todos sejam a minha semelhança e consequentemente à semelhança do Pai que está nos céus. Ensinem as pessoas a serem humanas, a serem justas, amáveis, verdadeiras... É disso que Jesus está falando. 

É até engraçado, mas, Deus é o único na terra que não discute religião. Deus é ateu!

E todo mundo quer convertê-Lo à sua própria religião...

Timóteo


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