SÍNDROME DO IMV


Gostaria de pensar a respeito da subjetividade dos irmãos tipificados na parábola proposta por Jesus (relatada em Lucas 15). Não é meu objetivo traçar perfis psicológicos, mas, revelar, a partir das Escrituras,  as muitas angústias da alma. Caso já exista o termo “Síndrome do IMV”, e deve existir, pois como já dizia Salomão, “nada há na terra que já não tenha sido“, me perdoem a ignorância. De modo que, aí estão alguns elementos que pude identificar. Não desenvolverei neste texto todos os desdobramentos e implicações por serem demasiadamente extensas, mas verifique na sua própria alma quais são. Então, as implicações ficam a cargo de cada um do modo como o Espírito quiser iluminar… Portanto:
1. O irmão mais velho é quem recebe o direito de primogenitura, ou seja, ele é a continuidade do legado familiar, social, psicológico, econômico e espiritual (penso ser este um arquétipo).
2. Portanto, o IMV nasce sob as espectativas sociais relacionadas à sua condição.
3. Sua “liberdade” está relacionada (ou condicionada) às expectativas da continuidade da linhagem e das tradições familiares.
4. Sendo assim, sua consciência está marcada pela correspondência ás expectativas familiares, de modo que, sua existência é caracterizada pelo peso da responsabilidade familiar e de suas demandas em detrimento de si próprio.
5. Portanto, o IMV julga que é seu o trabalho árduo, por mérito próprio, conquista, merece um lugar junto ao Pai. Desse modo, concebe o amor como resultado de uma relação meritocratica. Mesmo que sua alma não esteja de acordo com as expectativas e demandas familiares, sua “pele” estará. Ou seja, ainda que na subjetividade da psiquê haja a necessidade  e a pressão interna por ser “livre”, o condicionamento à pressão externa o aprisiona a ser a representação de todas as expectativas que sobre ele recaem.
6. Sendo assim, suas produções estão voltadas para o agrado e as demandas exigidas de sua posição. Ele trabalha incessantemente para encarnar a projeção social e ser aceito. É um possesso pelos “demônios” das projeções sociais, e tudo o que produz está voltado para atender a esses espíritos insaciáveis.
7. Quem as exige, ele próprio, pelo medo da não aceitação. Obviamente que há a pressão social, no entanto, ela não tem o poder de determinar a alma, mas pode sufocá-la e até matá-la.
8. Surge daí a cisão no ser do IMV. A neurose do IMV. A alma quer festejar, mas a “pele” demanda o trabalho no campo. A "pele" é a identidade, o "eu" erigido por meio de extenuante trabalho de aceitação das demandas da continuidade do legado familiar e da manutenção da herança simbólica da tradição. São duas forças legítimas dentro da mesma casa. O ser dividido entre a representação do IMV e a vontade de ser para além das expectativas da posição assumida.
9. Desta forma o IMV inveja o irmão mais novo pela sua “liberdade de ser”, uma existência livre das pressões da primogenitura. “Nunca me deste nem se quer um cordeirinho para festejar com meus amigos...” Não obstante, é certo que o irmão mais novo julgue que o irmão mais velho seja mais bem quisto pelo Pai. 
O que nem um nem outro consideram é que o amor do Pai não é diferente para quem vai ou para quem fica. Mas, cada um tem que viver, diante do Pai, com as escolhas que faz.
Que o Senhor Jesus nos dê a Luz para integrar alma e espírito. Nos encha de coragem de ser! Pois ele mesmo jamais deixou-se enredar pela projeções sociais de seu tempo, pelo contrário, sua vida foi exatamente uma afirmação do contrário, sua existência foi a negação de todas as expectativas humanas possíveis. E foi plenamente, a encarnação de todas as expectativas do Pai. De modo que, a cruz de Jesus é o símbolo máximo de seu caminho contraditório às projeções de seu tempo e a encarnação da tradição da família do Pai. Ele é o início e a perpetuação da família do Pai na história. 
Sendo assim, a síndrome do Irmão mais Velho é paradigma da neurose religiosa. Pois o espírito da religião se fundamenta  no medo da não aceitação. A crença de que o amor se dá como resultado do calejamento das mãos e do coração apresentados ao Pai como mérito. Tanto de quem vai quanto de quem fica. É a possessão do ser pelo espírito do mundo.
A cura, só na apropriação do seja a cruz como jornada existencial tanto para quem fica quanto para quem vai!


Timóteo

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