discipulado



Diário de bordo - Data... (Não contamos os dias, Jesus parece viver outro tempo)



Nunca paramos para descançar, "meu Pai trabalha até hoje... enquanto seus pequeninos dormem ele provê seu alimento.. assim eu trabalho também... enquanto é dia tenho que realizar a obra que meu Pai me confiou" diz ele.



Quando ouvimos sua voz, acreditamos em cada palavra, acreditamos no olhar que nos atravessava, como a luz do sol perpassa as oliveiras. Suas palavas nos queimavam o coração, nos transportava a outro mundo, um mundo cheio de vida e de possibilidades infinitas. Como resistir! Nos levantamos e nos pusemos a seguí-lo, não pensamos em mais nada, haviámos encontrado algo verdadeiro, mais verdadeiro do que nos parecia a luta diária pela sobrevivência.



Vimos verdade e beleza em cada ato, em suas expressões, o modo como caminhava, o modo como tocava as pessoas. Quando o sol incidiu sobre ele, quando a chuva caiu sobre nós todos enquando caminhávamos, eu soube: "Deus estava ente nós". Pedro chegou a dizer: "Tu és o Filho de Deus, aquele que haveria de vir". Panos cobrem seu corpo, o suor corre pela sua testa, assim como a água do Jordão cobriu sua cabeça. Como pode ser? É Deus entre nós! Mas sinto seu cheiro, posso até abraçá-lo, e na verdade poderia passar a eternidade aos seus pés.



Passamos a seguí-lo, deixamos tudo. Não pensamos no que vestiríamos, ou como comeríamos, onde dormiríamos. Ele fazia o caminho, nós só o seguíamos (e ainda é assim). Não sei como dizer, mas, dependemos dele para tudo, se ele nos der o que comer, comemos, se ele nos der o que vestir vestimos, nos tornamos como crianças. Nenhum de nós tem para si posse alguma que não nos seja comum. Diante das outras pessoas passamos a ser indigentes, não somos ninguém, somos aqueles que seguem um certo Jesus, vindo de Nazaré, filho de José. Nada mais que isso.



Todos nós imaginamos que o caminho seria diferente. Aos poucos passamos a entender, com muito custo, que o caminho dele vai na direção à rejeição dos homens e contra toda a aparência de ser segundo os homens. Passamos a entender que seu destino seria o nosso. E, em entendendo isso alguns voltaram.



Ele não procura o apoio dos religiosos, pelo contrário, ao andarmos com ele os religiosos passaram a nos querer mal, não nos querem nos seus ambientes. Não temos mais o favor dos nossos entes mais chegados. Não encontramos acolhimento mesmo entre nossa família. De modo que não temos lugar em que nos apoiar a não ser nele. Não sabemos o dia de amanhã, só sabemos o que vivemos com ele hoje. Nos sentimos lançados num vazio segurando unicamente na nossa fé nele. Cremos nele, por isso deixamos tudo. E agora nada temos a não ser nossa confiança nele.



Já não podemos voltar atrás. O que faríamos depois de tê-lo ouvido? Voltaríamos às redes? Viveríamos ocultando de nós mesmo o que vimos e ouvimos para sermos abraçados novamente por tudo aquilo que deixamos? Para onde iríamos?



Crer nele fez de nós seres desprezíveis em face do mundo, mas fez de nós o que jamais seríamos dentro de nós e diante do Pai. Não temos posição a qual recorrer diante das outras pessoas. "O que você é?" perguntam. O que posso dizer senão que sou um "seguidor daquele a quem todos rejeitam". Sim, pois todos rejeitam suas palavras e o modo como vive, tentam mudar a verdade de que ele mesmo afirma "o Filho do Homem deve ser rejeitado pelos religiosos e pelo povo e morto na cruz". De fato, ele rejeita todos os que se aproximam dele propondo um caminho diferente do nosso caminho "vergonhoso". Ele afirma que todo aquele que se envrgonhar dele, ele se envergonhará desse diante do Pai". Está claro que nosso destino é a rejeição e o martírio na existência, morremos aos poucos todos os dias para o que achávamos que era a vida, de modo que a morte em si nada mais representa, senão a conformidade com ele.



Depois de ouvir suas palavras nos sentimos como se não houvesse lugar para nós nesse mundo, ansiamos a pátria de que ele tanto fala, sonhamos com ela, mas, aqui, não temos onde reclinar a cabeça. Nossa alma não tem aqui descanso. Mas, diz ele que nosso descanso está preparado.



O que temos senão nossa fé nele? O seguimos por onde ele nos levar. Se nessa caminhada as palavras dele se tornarem as minhas e seu olhar se tornar o meu, então terei achado meu descanso.



Diante do mundo somos a vergonha, não temos lugar, não temos argumento, senão: "cremos nele e o seguimos".



Precisamos caminhar, darei mais notícias pelo caminho.



Timóteo

Comentários

  1. Caríssimo, é uma honra participar de seu blog! Que as bênçãos do Senhor estejam com você e sua família. Saudações fraternas em Cristo!

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