Arrepender-se: uma questão de escolha

A pregação de Jesus a respeito do Reino, assim como a de seu predecessor e de seus sucessores, os apóstolos, é a mesma: "o Reino é chegado, arrependei-vos e crede no Evangelho." Há muito o que dizer a respeito desta síntese Evangélica, no entanto, quero me ater a um único aspecto por enquanto; a exigência que a chegada do Reino impõe - o arrependimento [metanoia].

Já ouvi e li bastante a respeito de arrependimento e a tônica é sempre a mesma: um discurso emocionalmente apelativo ávido por suscitar nas pessoas a confissão pública de suas mazelas. Nota: os pecados devem ser confessados a Deus que já perdoou os pecados em Jesus. Se você pecou contra um irmão se confesse a ele e peça perdão a ele também para que ambos sejam curados, o magoado e o agressor. Há, na religião, uma tara psicológica em busca de "segredinhos pessoais", santarrões a procura de  "Madalenas" para aplicarem sua própria justiça em nome de Deus.

No entanto, há quem chore por seus erros cometidos, há quem chore o tempo todo cuja as lágrimas já secaram na fonte. Há aqueles que os guardaram tão no fundo de sua alma que creem que nunca aconteceu. Há ainda, aqueles que racionalizaram tanto seus erros, dando boas justificativas para cada um deles que não sentem mais a latência da dor de conviver com eles. E, há aqueles que simplesmente não choram. Tanto faz, todos erramos, o chorar ou não pelos erros, ou seja, expressar algum remorso, comoção interior por isso não significa nada. Alguns irão dizer: "é verdade, tem que abandonar o erro, não cometê-lo mais!" Parece correto, mas, só no discurso religiosos, para o delírio das massas ávidas pela humilhação expiatória do irmão. Expiatória, porque ao ver o irmão declarar suas feiuras interiores eu me sinto "salvo" por "não ser como ele", não ter feito o que ele fez, logo, não preciso me arrepender. No entanto, esse tipo de tara evangélica não muda nada! É preciso trocar o sistema, formatar a "máquina humana", desinstalar o sistema do pecado e instalar outro programa, o do Reino.

Segundo a pregação Evangélica, o Reino exige das pessoas arrependimento. A chegada do Reino exige arrependimento, porque arrepender-se é concordar com o governo de Deus que chegou e que será eternamente concretizado com a segunda vinda de Jesus. Ora, obviamente que os revoltosos, aqueles que continuarem revoltosos em relação ao governo de Deus, o Reino, haverão de suportar o juízo de acordo com sua posição. Pois revoltar-se contra o Reino significa, em última análise, a manutenção e o patrocínio do sistema corrupto que está instalado sobre a terra. Um sistema de injustiça, miséria, disparidades sociais, abusos, homicídios, violência e guerra, corrupção, etc. Isso em detrimento ao Reino cuja a base é a justiça e a equidade.

Se você concorda que, nós, enquanto humanidade e indivíduos, estamos aquém do é "ser humano" e necessitamos do padrão sistêmico de Jesus na Terra, então você está concordando com Deus, está demonstrando "arrependimento".

Literalmente, arrependimento [meta-nóia] significa "expansão da mente". É o abrir da mente para as realidades até então ignoradas. É a decisão em   esvair-se da alienação imposta pela existência marcada pelo esquema injusto desta era. E, concordar com Deus a respeito de quem somos e quem devemos ser com base no modelo de humanidade que é Jesus. Isto é uma questão de escolha! Uma questão de escolha entre dois sistemas de conhecimento, portanto, trata-se de uma questão epistemológica (relativo ao conhecimento). A questão é: em qual sistema de conhecimento você vai basear sua vida? O sistema de conhecimento da era em que vivemos ou o de Jesus. Seremos pessoas marcadas pelo espírito deste tempo ou pessoas como Jesus?

Arrepender-se é rejeitar o sistema atual, nas palavras de Jesus, "negar-se a si mesmo". Pois todos nosso processos mentais e relações sociais estão inseridos e sendo regidos pelo sistema desta era, que jaz no maligno, que tem por mantenedor e idealizador, Satanás. Arrependimento é desinstalação do modus operandi satânico das nossas mentes e das nossas relações. Isso deve acontecer todos os dias. E é demonstrado na vida não num momento de choro. Não sei se Zaqueu chorou, mas sei que se arrependeu porque se prontificou a mudar o curso das coisas na prática da vida. Não sei se Maria de Magdala chorou, mas sei que mudou de vida radicalmente. Diz o Evangelho que Pedro chorou amargamente e se tornou outra pessoa. Chorando ou não, arrependimento se demonstra na vida.

Mas, não basta desinstalar o sistema maligno, é necessário instalar o sistema do Reino, "crede no Evangelho". Continua em: "Crer: uma questão de escolha."

Pr. Timóteo F. Santos


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