Dons: manifestações da Graça II

Vimos no post anterior um contexto geral a respeito da igreja de Corinto, antes de entrarmos na questão dos 'dons' (leia antes 'Dons: manifestações da Graça I', para ter melhor compreensão). Sendo que, a primeira afirmação que fizemos a respeito do dons espirituais é que são manifestações da Graça de Deus, independente de qualquer ação humana, é Jesus quem concede dons aos homens conforme sua vontade. Como afirma Paulo, citando o salmo 68.18: "Tendo subido as alturas concedeu dons aos homens". Ora, se são dons, obviamente, não são frutos do mérito humano. Pois, se assim fosse não seriam 'dons'. A manifestação da Graça de Deus em nós não tem a ver com nosso labor espiritual. Pelo contrário, quanto maior a auto construção do ser menos construção do Espírito na vida.  Logo, não há motivo de vã-glória, nem de orgulho, pois tudo nos foi dado, é Graça. Manifestação dos dons do Espírito de Jesus não são sinal de status como pretendem alguns, não são condição para participação num ministério, não são critério de julgamento de quem é ou deixa de ser no corpo de Cristo. Os quais assim procedem usurpam para si a glória que é de Deus, certamente responderão por sua rebeldia e orgulho.

Vejamos o que nos diz o texto de I Coríntios, capítulo 12. 

O primeiro ensino de Paulo em relação aos dons Espirituais é:

1. As manifestações espirituais na Igreja de Jesus são completamente diferentes das manifestações espiritualistas pagãs, não havendo nenhuma possibilidade de conciliação entre elas.  

"A propósito das coisas que são do Espírito, irmãos, não quero que estejais na ignorância. Vós sabeis que quando éreis gentios, éreis irresistivelmente arrastados para os ídolos mudos. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: 'Anátema seja Jesus'. E ninguém pode dizer 'Jesus é o Senhor', senão pelo Espírito Santo." (v.1)

Imagine por um instante a igreja de Corinto, pessoas de todas as regiões do mundo conhecido, com suas crenças  e práticas religiosas aprendidas culturalmente, politeístas, condicionados ás formas dos cultos pagãos nos quais havia uma variedade de manifestações 'espirituais' das mais excêntricas (de orgias sexuais a transes induzidos por misturas, êxtases psicológicos, auto flagelações, etc.), teologias diferentes, cosmovisões variadas e classes sociais distintas. Junte todo esse pessoal numa mesma reunião e tente fazê-los se entender a respeito de 'religião' (no sentido de como se relacionar com Deus). Pois é... humanamente impossível! Essa era a igreja de Corinto, uma missão impossível à sabedoria humana.

A pessoas estavam condicionadas às formas das espiritualidades pagãs e suas manifestações marcadas por performances cheias de mistério e sobrenaturalidade, carregada de arquétipos simbólicos e estímulos sensoriais. Ou seja, estavam condicionados ao 'show da fé'. No qual cada um era compelido a manifestar uma performance mais elaborada e 'espiritual' que o outro, indicando assim seu status espiritual. Os irmãos de Corinto estavam chamando isso de manifestação do Espírito. No entanto, obviamente, não era o Espírito de Jesus, mas um espírito de uma espiritualidade condicionada pelas estruturas pagãs. 

Toda espiritualidade pagã, que não tem a ver com Jesus, é marcada pelo 'show da fé'. Pois, o motivo do 'show' é a manifestação do 'si mesmo', uma vez que os ídolos são 'mudos' (aphona), não se manifestam, não se expressam na história. Claro que 'os ídolos não são nada em si mesmos', não tem poder de interferir na história humana, sendo assim, o que manifestam aqueles que agem de acordo com a espiritualidade pagã? Manifestam a si mesmos. expressam sua própria psiquê obscurecida. Porque o fundamento de toda espiritualidade fora do Evangelho é a auto construção e a auto promoção 'para Deus' diante dos homens. 

É a afirmação do 'eu' como causa espiritual. O estabelecimento do 'eu' como fonte das manifestações espirituais. Isso é paganismo, mundanismo. Estamos até a tampa desse espírito mundano em nossas igrejas hoje! Aceitamos a proposta satânica que Jesus recusou: "Lança-te do pináculo do templo, pois está escrito, 'aos teus anjos dará ordem para que não tropece em pedra alguma'". O que é isso se não a proposta para que Jesus fosse a causa da manifestação espiritual, a proposta para que Jesus realizasse um 'show da fé'.

Paulo nos afirma que é impossível uma conciliação entre essa forma de espiritualidade e a espiritualidade na Igreja de Jesus. O 'anátema' é algo consagrado a um deus, nesse caso provavelmente uma referências às carnes consagradas no templo de Apolo às quais Paulo faz referência anteriormente. Deste modo, dizer que 'Jesus é anátema', significa dizer que Jesus tem alguma participação num templo ou num rito pagão e suas estruturas. Os cristão de Corinto estavam transitando geograficamente entre os templos os ritos pagãos e a comunidade de Jesus, sobretudo, transitavam psicologicamente entre as formas de espiritualidade pagãs sem se aperceber de sua ignorância espiritual que os adoecia, e fazia deles 'crentes carnais', 'arrogantes', 'briguentos', 'sexualmente perversos'. Todavia, a espiritualidade e a manifestação do Espírito de Jesus é completamente outra, não comunga com o modo da maioria das manifestações 'espirituais' que vemos hoje nas igrejas que se dizem de Jesus. 

Ainda há muito para falar a repeito deste pequeno texto, continuamos no próximo post...
Que o Senhor, pelo seu Espírito nos ensine o que de fato são as coisa do Espírito. 

Timóteo Ferreira Santos.


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