a vida eterna dos "evangélicos" é a morte

O que é vida eterna? Essa parece ser uma pergunta redundante, mas não é. Pensamos saber do que se trata vida eterna, pois fomos doutrinados em idéias religiosas e conceituações de senso comum que nos afirmam que vida eterna é uma existência sem fim cronológico. Ou seja, para a maioria de nós "vida eterna" é um existir sem fim de dias em um lugar qualquer chamado "céu". Mas será que é isso mesmo?

Gostaria de te levar a uma compreensão bíblica a respeito do conceito de "vida eterna" a partir de alguns elementos básicos que deveríamos pensar e não pensamos por estarmos condicionados às imagens religiosas e de senso comum.

 "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17.3) 

A vida eterna, salvação, é um "conhecer", um "saber", portanto, uma "consciência". A salvação é antes de qualquer coisa ter uma mente nova, um novo modo de pensar. Logo de saída já percebemos que não se trata de uma existência qualificada por relações de espaço-tempo. Vida eterna não é um tempo sem fim na "terra-do-nunca". A vida eterna do senso comum religioso é mais um parque temático celestial no qual os dias se sucedem em cantorias sem fim. Imagine... acordar todos os dias às 5 horas da manhã (deve-se acordar cedo lá, porque Deus não dorme) para cantar, cantar, cantar até o fim do dia... Aos fins de semana, simpósios angelicais de louvor e adoração, cultos ininterruptos. Se a vida cristã para o crente é culto então a vida eterna não pode ser outra coisa percebe...  Apesar do ridículo da ideia, é nisso que se crê devido a falta de reflexão básica a respeito do que chamamos "fé". 

Primeiro, que se a vida eterna é uma consciência, não é um "fazer". A vida eterna já "é", eu tomo consciência daquilo que já é uma realidade, sou salvo. Ninguém constrói "vida eterna". A ideia de "fazer" para se ter algo de Deus é diabólica. Antes de contar a parábola do samaritano que acudiu o viajante assaltado, perguntam a Jesus: "Rabi, o que faremos para herdar a vida eterna?" - ora, se é herança, apenas desfrute da morte do outro, porque alguém quis dar o que lhe era próprio e valioso! E como se desfruta da morte do outro? Se doando para quem está pelo caminho com você, ou seja, morrendo para que outros possam desfrutar da sua morte. Diluindo-se em relacionamentos, diluindo-se nos outros. Esvaindo-se em amor. Ninguém constrói vida eterna, vida eterna é uma construção em nós. Vida eterna como um prêmio final por uma vida religiosa é uma armadilha satânica. Saiba, não existe galardão para vida religiosa após a morte. Deus não premia pessoas por produtividade religiosa, nem por tipo nenhum de produtividade. Nós não fazemos para ter vida eterna, mas, porque temos vida eterna, fazemos o que fazemos. O ramo da videira não produz uvas por causa da meta do mês, produz porque é videira, é expressão de sua natureza. Conhecer Jesus gera vida eterna em nós. Conhecer a Jesus gera a consciência de que eu já tenho vida eterna porque ele morreu pela humanidade. No entanto, entender a vida eterna como resultado de um "fazer" gera morte. Missão da igreja não é ensinar as pessoas a "fazer" coisas para ir para o "céu", é levá-las a consciência de Cristo, ao modo de pensar de Jesus. Ensinar pessoas a "fazer" para ter vida eterna é empurrá-las para o inferno, pois tomaram para si o modo de pensar do diabo. Aliás, só um deus-diabo poderia conceber a vida como uma competição espiritual fundamentada em produtividade religiosa. Na qual quanto mais culto, mais rito e sacrifício melhor a posição (mais perto de Deus). E quanto mais avançada a posição religiosa, mais se pode julgar os que para trás ficam. Uma competitividade do diabo, é isso que é a vida cristã dos evangélicos. Cada um por si e o satanás por todos. Cujo fim é a morte.   

Segundo, vida eterna é uma consciência a respeito do outro, e o outro é Deus. Vida eterna é conhecer o Deus único e verdadeiro. Posto que, existem vários e falsos. Cada pessoa possui um deus da sua fabricação psíquica-religiosa, um deus para sua salvação pessoal. Um deus que dita o que gosta e o que não gosta e que em se fazendo o que esse deus gosta então se recebe a "vida eterna". Esses são os muitos deuses. O Deus único e verdadeiro é amor, significando dizer que Ele é relação pura. Isso porque sendo Deus não precisava de nada nem de ninguém, mas, por ser amor, criou para expressar quem é, amor. Pois, a expressão do amor só se dá na relação com o outro. Deus escolheu criar para amar e porque É amor, criou. Criou a partir de si mesmo, sem se fragmentar, uma variedade de partes, todas experimentando uma mesma vida, um mesmo amor, uma mesma relação: Deus. Somos expressão do amor de Deus, não como indivíduos, como humanidade. Não existe manifestação da glória de Deus no indivíduo, só na comunidade (Efésios 4). E a consciência de que toda criação (incluindo seres humanos - isso porque nós insistimos em nos enxergar desconectados do bioma cósmico). Portanto, ter consciência do Deus único e verdadeiro é se saber parte do Todo. Saber que Deus não está preocupado na salvação de indivíduos mas na restauração de todas as relações criadas. Ter consciência de Deus é ter consciência do próximo, ter consciência da natureza e consciência de si mesmo como parte do todo e não como indivíduo absolutizado em si. Ter o Deus verdadeiro e único como consciência é saber-se existir unicamente como relação e não como indivíduo. Uma revolução mental tão profunda que mal conseguimos dimensionar suas implicações. Quer um exemplo: toda o cristianismo está voltado para a salvação do indivíduo - "salvação é pessoal" - ou seja, cada um se vira com seu deus para agradar-lhe e conseguir vida eterna. 

Todavia, 'vida eterna' é ter consciência de que somos parte do Deus: somos filhos, o "Pai é nosso"; que temos muitos irmãos; e que somos parte de uma casa e cuidadores dela. Ter vida eterna é nos ocuparmos com essas relações básicas. Quem está se ocupando em garantir a sua "vida eterna" já a perdeu porque absolutizou-se como todo, como quem diz "tudo o que importa sou eu". Mas, Jesus insiste em mostrar que tudo o que importa somos nós no Pai: "para que eles sejam um, assim como nós somos um; eu neles e Tu em mim, para que sejamos aperfeiçoados na unidade " (João 17. 22-23). Isso porque em Cristo Deus criou o segundo 'adam, ou seja, uma nova humanidade, um corpo, um edifício, e não indivíduos, ou um monte de membros esquartejados, ou uma pilha de tijolos. Em síntese estou afirmando que toda religião, inclusive o cristianismo, do ponto de vista da salvação para a vida eterna, é uma ilusão, uma loucura produzida pela fragmentação pecaminosa individualista. Pois, vida eterna só existe enquanto relação com outras pessoas e com a natureza, posto que, Deus é espírito, e só posso abrigá-lo no próximo, só posso alimentá-lo no faminto, só posso vesti-lo no esfarrapado ao lado, só posso me relacionar com ele no próximo. Deus não escolheu ser amado no culto de domingo, não escolheu ser amado nas nossas orações, nem nas músicas, em nada disso. Relação com Deus, amá-lo, só em outro ser humano. Ter essa consciência é ter vida eterna. 


Terceiro, vida eterna é conhecer do Filho, ter a consciência do Filho e a consciência transformada pelo Filho, que é Jesus, o Verbo, a Palavra Eterna. "Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu filho. Aquele que tem o filho tem a vida;  aquele que não tem o filho não tem a vida." (1 João 5.11-12). "Também sabemos que o filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro;  e estamos no verdadeiro, em seu filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna." (1 João 5.20). 

A pergunta que você deve ter feito é: como ter o Filho? E você perguntou porque quer ter vida eterna como indivíduo... kkkkkkkk (calma, tem jeito, a consciência do Evangelho é como uma semente que cresce, e cresce...) Pois, "o Filho é vindo", já "está", já "é", e "tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro" e todos os que estão recebendo entendimento, que é a consciência do Filho, por seu Espírito, sem que nada tenham feito para isso, porque é herança recebida, apenas e somente pela fé, têm a vida eterna. E a prova dessa consciência e vida eterna em nós é que passamos a enxergar para além de nós mesmos. Porque o Filho é essencialmente doação de amor de si mesmo para a humanidade na cruz. Ele, que poderia por direito, se absolutizar em individualidade, escolheu se doar em multiplicidade. E essa é a máxima da vida eterna, quanto mais se dá de si, mais vida eterna se manifesta.

De modo que, "não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele subsistindo em forma de Deus, não julgou, como usurpação, ser igual a Deus; Antes esvaziou-se de si mesmo, assumindo forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz." (Filipenses 2.4-8)

Timóteo


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