que tipo de ansioso você é?

Comecei...  

"Não andeis ansiosos" (Filipenses 4.4)

Quando Paulo escreve estas palavras aos irmãos em Filipos (Macedônia) da prisão domiciliar em Roma, aguardando julgamento. Uma situação essencialmente limitadora, opressiva, marcada por incertezas e angústias. Contudo, a carta aos filipenses tem como característica principal a alegria, o contentamento. Isso porque Paulo afirma que "aprendeu a estar (ser) contente" em qualquer situação, confortável ou adversa (Filipenses 4.11-13). o que é muito interessante porque nos afirma que ser feliz, contente é algo que se aprende na caminhada da vida. "É preciso saber viver", Paulo cantaria, "é preciso aprender a viver". Ora, se é aprendizado, logo, se  trata de uma consciência que podemos adquirir na vida. Não por acaso Paulo afirma a Tito que a  graça de Deus é educadora. Em outras palavras, o que estou tentando dizer é que o Evangelho nos ensina a ser feliz quando ele se firma raízes em nosso ser. E, o evangelho nos propõe uma alternativa de caminhada muito simples expressas em três imperativos básicos para uma nova consciência, aqui falo de apenas um:

1. "não andeis ansiosos", Paulo repete literalmente as palavras de Jesus ditas na Galileia (Mt 6). Essas palavras na boca de Paulo nos dão o referencial existencial do que significam, posto que, ele diz isso de dentro de uma prisão na qual não podia afirmar do que seria dele no outro dia em todos os âmbitos da sua vida, se teria alimento ou não, se seria condenado ou não, se teria vestimenta ou não... a situação circunstancial na qual ele se encontrava geraria na pessoa mais tranquila 3 a 4 gastrites psicossomáticas por centímetro quadrado de intestino. No entanto, ele se diz contente, feliz! Isso porque, a primeira consciência que deve ser aprendida na nossa caminhada é que não devemos fazer das circunstâncias o chão da nossa existência. Ou seja, nada do que é circunstancial será o chão da minha alma, da minha mente, das minhas emoções. Pois, quem faz do que é efêmero o chão da vida certamente ficará sem chão a cada estação e as estações passam cada vez mais rápido. Circunstancias são por definição coisa que passa, portanto, plantar o coração em coisa que passa é ter a certeza de ficar sem chão. Isso é ansiedade -  a certeza da falta. A ansiedade é a mente funcionando a partir da lógica da falta: ter (condições ideais) para ser (feliz, contente). E essa lógica produz, essencialmente, dois tipos de ansiedades, a primeira:

 É a certeza de que o chão irá faltar, que as seguranças inexistem. A ansiedade como fé na relatividade de todas as coisas. Sob esse aspecto, pessoas ansiosas são aquelas que, não saem do lugar, nada buscam pela certeza da fugacidade, pois estão convictas de que não vale apena "correr atras do vento". São pessoas que não permanecem em empregos, não terminam o que começam. Sempre insatisfeitas (e essa é sua principal característica), extremamente críticas, pois a crítica, neste caso, é a racionalização da ansiedade. Eu diria que essa manifestação de ansiedade se fundamenta no pessimismo existencial que nasce da certeza da morte. Daí a necessidade de mudanças constantes, de experiências inúmeras, da vontade de abraçar o mundo antes da morte, de viver uma vida em um clique. Pessoas tomadas pelo sentimento da ampulheta... numa corrida insana para a vida fazer sentido antes da morte. Contudo, quem quer viver todos os dias num só não vive nenhum. Quem não se concentra no possível não realizará nada. Paralisar-se-á pelo muito, pulverizado na multiplicidade de sua ansiedade. Pois, esse ansioso é aquele que se sabe um litro de água e quer regar a amazônia, ao invés de concentrar-se na orquídea de casa. Mesmo frente a tantos perigos, perseguições, açoites, apedrejamentos, naufrágios, prisões... Paulo não foi paralisado pela certeza da morte (e poucos viveram tão próximos a ela como Paulo). Fez o que pode, como pode e fez muito bem, "combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé". Os lírios são efêmeros, e logo são destruídos, diz Jesus, no entanto, sua existência é coroada de esplendor. Os lírios são sábios, não se furtam a vida pois não se ocupam com a morte.  

Todavia, o segundo aspecto da ansiedade se expressa pelo oposto: pessoas que buscam incessantemente circunstâncias ideais, buscam absolutizar o que é passageiro, fazer eterno o que passa. São aquelas tomadas de medo do futuro não arriscam a espontaneidade, a mudança. Suportam o insuportável sob a máscara da responsabilidade e da fidelidade. Não rompem com o que é prejudicial, não amputam da vida o que lhes mata, se submetem a jugos injustos (desiguais) e  por aí vai... tudo por medo, medo da vida. Certos de que a vida é sempre futuro e o futuro é sempre incerto. Pessoas que nunca estão com a mente no "hoje". E pelo pavor do amanhã, hoje não realizam nada, e o triste disso, é que a vida é feita de "hoje". O medo da vida consiste justamente em não entender que a vida é feita de "hoje". E que, portanto, o futuro não existe. De modo que, o medo do amanhã é uma pre-ocupação sem sentido. "Não vos preocupeis com o dia de amanhã, basta a cada dia seu mal", diz Jesus, pois a pior coisa que pode acontecer está contida no momento chamado "hoje", que é justamente agora, e o seu agora, não está marcado pela tragédia, ou você não estaria lendo isto... Ainda assim, se houver um "hoje" que contenha uma circunstancia adversa, mesmo essa circunstância estaria confinada a um momento, seria apenas circunstância. Paulo não tinha ansiedades quanto à perenização de situações aprazíveis nem adversas, não deixava a alma fazer de momentos o chão de suas emoções. Sabia que eram apenas "hojes" e "hoje" passa, por isso vivia cada dia plenamente, a despeito da situação. "Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação.Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez, tudo posso naquele que me fortalece" diz ele. (Filipenses 4.11-13)

Portanto, "não andeis ansiosos". Aprenda com os lírios. Cada raio de sol, cada brisa e gota de orvalho, são cuidados dos céus que alimentam e dão sabor à vida. O espetáculo da aproximação do beija-flor e da abelha são encontros inesperados e inesquecíveis. Tudo fala, tudo manifesta a glória de Deus. Ore de olhos abertos. Viva a vida hoje, sem medos. Comece. Conclua. Diga que fará e faça, melhor ainda, faça! Construa um castelo de areia na praia, cuide de uma flor e aprenda com ela a irradiar beleza em cada momento. Torne-se amigo da pessoa na fila do banco, fale da vida com alguém no metrô. Coma devagar, coloque a mesa, sente-se, saboreie o alimento. Visite pessoas. Sorria para todo mundo, "dê bom dia a cavalo". Vai passar... mas, a eternidade cabe num segundo... o grande amor da vida toda começa com um olhar, um "oi". 

Aprenda com os pardais que ocupam sua existência com o dia de hoje. Não ocupam suas vidas com um conceito chamado amanhã, "não guardam em celeiros". Outro hoje trará outras coisas, novas e velhas, para serem vividas de maneiras mais sábias, mais intensas, menos sofridas. O choro de ontem pode ser o riso de hoje, bem como o riso de hoje pode vir a ser o choro da velhice. Então, não deixe para amanhã, amanhã não existe. A vida é feita de "hoje", vive-se hoje e nada mais. Hoje, arrisque mudar a cor do esmalte, o corte de cabelo. Mude o caminho de volta para casa, veja outras paisagens. Roube um beijo, um abraço, diga que ama sem pensar duas vezes. Reclame justiça, enfrente, pois, tem brigas que nos ferem quando evitadas, e nos tornam fortes quando bem brigadas. "Dance, mesmo sem saber dançar", conte uma piada, nem que for para rir sozinho. Guarde algumas imagens no seu coração, não no facebook. Esqueça-as depois... Limpe seu guarda roupa, jogue as mágoas e as tralhas fora, todas... Não, não será útil. Não foi até agora, não será depois.   

Que essa consciência simples, mas, curadora nos habite. Terminei. 

em Jesus, que nos fortalece,
Timóteo 

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