a verdade vos libertará

"Se permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará." (Ev. João 8.31-32) Ou seja, se vocês comerem meus ensinamentos como quem como minha carne, para ter de mim em si mesmo. Se eu alimentar a alma de vocês com vida, então vocês andarão no sentido de ser como eu sou, serão meus discípulos. Mas, só se for assim, só se eu estiver nutrindo cada célula, tecido, só se for eu, a fonte de energia dos seus neurônios. Se minhas palavras estiverem correndo como rios em suas sinapses. Se vosso ser estiver saciado da minha palavra, da minha vida então vocês me conhecerão. O que Jesus está afirmando é que só se pode de fato conhecê-lo quanto ele está dentro de nós. Conhecer Jesus não é saber a respeito dele, não é informação é experimentação, é tê-Lo. E, em O tendo, então passamos a conhecer a verdade, porque ela passou a nos habitar. Se temos Jesus, sua palavra, então a verdade nos habita. Posto que, a verdade é uma pessoa, não um conceito. 

Jesus diz essas palavas no templo, logo após livrar das mãos dos líderes religiosos uma mulher surpreendida em adultério. Era de manhã, Jesus, assentado, ensinava o povo, e então escribas e fariseus trazem a mulher até Jesus. Claro que "surpreendida" é um modo de dizer, "todo mudo sabia da condição dela..." e não, necessariamente, que ela tenha sido flagrada no ato do adultério, naquele exato momento. Pode ser que ela tivesse sido abandonada pelo marido e estivesse com outro homem, ou ainda que, em sendo abandonada, estivesse à merce dos julgamentos maliciosos de uma sociedade machista, na qual, uma mulher "sem dono" é "mulher de todo mundo". Até porque, "adúltera" e a rotulação data pelos adversário de Jesus, nunca na boca dele. Enfim... Isto fica claro diante da intensão dos líderes religiosos, pois, eles querem ocasião, elementos de acusação para matar Jesus, é o que João afirma o tempo todo. E, o próprio Jesus afirma a respeito deles mais adiante: "procurais matar-me pois a minha palavra não tem lugar dentro de vós". Diante de tal intensão, os escribas e fariseus, tomam a mulher de onde estava (a isca), arrastam-na por Jerusalém até o templo, num espetáculo cruel de humilhação, jogam a "isca" no pátio do templo, no meio de todos, à frente de Jesus e, para pô-lo à prova, perguntam: "é uma adultera, a Lei manda apedrejá-la, e você o que diz?" Claro que, se dissesse: "apedrejem-na!", revelaria-se tão cruel quanto os fariseus e escribas, mas, se optasse pelo confronto à Moisés, dentro do templo, então teriam aí sua matéria para matá-lo. Então Jesus faz algo surpreendente, revela o coração deles, os deixa nus, diante de todos: "quem não tem pecado que atire a primeira pedra". É fantástico! Porque, para Jesus, este fato torna manifesta mentira como sendo o estado da alma humana. (João 8.1-13)

Para Jesus, mentira, auto-engano é o estado natural da alma humana. No caso daquela mulher, a motivação verdadeira era: ódio homicida, queriam matar Jesus. No entanto, a verdade estava ungida em: santidade, "estamos zelando pela lei de Deus". Aliás, Deus sem verdade, sem Jesus é sempre o melhor álibi para matar. O objeto do ódio dos religiosos era Jesus, mas, em não sendo possível matá-lo sem a devida acusação, pois a Lei de Moisés não o permitia, tomaram uma mulher a quem a lei mandava matar. E sobre ela projetaram seu ódio legalizado. 

E porque odiavam Jesus? Por que Jesus representava a desconstrução de tudo o que eles eram. Jesus era a desconstrução de toda sua imagem, de tudo aquilo que chamavam "eu". O poder, o reconhecimento, o status religioso, os sonhos, as expectativas, as ambições... a presença de Jesus lhes era um incômodo espelho que mostrava a todos que tudo aquilo que chamavam de "eu" não passava de sede insaciável da alma e fome incurável do ser, "ódio e rapina". Pessoas fixadas no mal, maquiando-o em bem, nomeando-o "santidade", "piedade", "zelo".    

Quão enganosa é a alma! À intolerância damos o nome de "minha razão". "Inaceitável no outro" é o nome dos nossos maiores desejos. Dá-se o nome "santidade" à repressão. Domínio sobre o outro é "amor". Crise histérica é "unção do riso". Se a histeria for coletiva então é "mover do Espírito". Que mover é esse que move pessoas da cadeira para o chão mas, não move corações ao arrependimento, nem à consciência em amor, graça e paz. Medo do inferno é "caminho da salvação". Pavor do diabo é "batalha espiritual". Mente atormentada pela culpa é "guardar a palavra no coração para não pecar". Intransigência tradicional chamamos de seriedade eclesiástica, e julgamos os jogos de poder nos bastidores denominacionais uma brincadeira. A maioria dos nossos engajamentos, são apenas projeções das nossas frustrações e necessidade de reconhecimento. Cada vez mais me convencem que quando ouço "eis te digo", ou, "Deus me manda te dizer", serei vítima de alguém que, não podendo despir minha roupa, quer tentar descobrir a nudez da minha alma para satisfazer frustrações que já tomaram proporções de taras. São tantos os caminhos e os mecanismos de engano na alma... 

Aquela mulher era vítima de seus próprios enganos e seria vitimada pelo auto-enganos dos outros. Contudo, diante da Verdade-Jesus, os enganos se vão. Ela não era mais "a adultera", queriam que fosse, ou até, a essa altura, como ela mesmo cria ser. Mas, Jesus disse que ela era mais que abandono e marginalização, ela era uma pessoa, e pessoas podem fazer caminhos diferentes, podem escolher quando encontram a Verdade: "eu não te condeno, pode ir e não peques mais".

A Verdade-Jesus, desmascara o auto-enganos dos acusadores revelando sua real intensão, mais que isso, expondo suas almas de modo tão claro que eles se tornaram réus do próprio julgamento. Só não tiveram a coragem para se apedrejar. Pois quando Jesus diz: "aquele que não tem pecado que atire a primeira pedra", está dizendo: vocês são como ela. A verdade é que vocês todos a desejam em seus corações e com ela adulteraram em suas mentes o tempo todo e, sobretudo, querem matá-la, como a mim, pois ela é o objeto de seu adultério e eu a prova. Apedrejem-na se não for assim!

Ele é a Verdade-Pão que em sendo comida nos liberta. O ser humano vive mesmo é de toda a Palavra que procede de Deus. Jesus é aquele que veio de Deus: "eu sou o pão dos céus!"

Nesse mesmo contexto, Jesus diz algo impressionante, contudo, pouco compreendido: "Estou partindo, e vós procurareis por mim, mas morrereis em vossos pecados; para onde eu vou, vós não podeis ir." (João 8.21) Partindo para onde? Porque aquelas pessoas não poderiam segui-lo, nem achá-lo? Jesus diz: "quem não comer da minha carne e beber do meu sangue não pode ter parte comigo", "eu sou o pão da vida, o pão que desceu do céu" e como disse no início, o corpo, o pão, o sangue, o vinho, é a Palavra, a Vida e o Espírito de Jesus, é Jesus em nós. Em todas as imagens Jesus indica a necessidade dele vir para dentro de nós. Porque é esse o destino dele o lugar dele. "Nós" é o lugar para onde iria após ressuscitar. Jesus realiza a obra da cruz para que recebamos o Espírito. E o Espírito é Jesus em nós. E onde a verdade habita a mentira é revelada, há liberdade e o julgamento cessado.

Por isso não o achariam, nem o seguiriam, pois quem não come o Pão da Verdade não pode ser livre. e só gente livre se enxerga. De modo que, seguir a Jesus é, em primeiro lugar ser livre da mentira, do auto-engano. Segui-lo me um caminho que liberta o ser. "Mas, conhecereis a verdade e a verdade vos libertará" (João 8.32). Se a Verdade nos habitar, todos os enganos caem por terra, e nosso ser vai se tornando "sim, sim, não, não", claro e límpido. 

Timóteo

*Gostaria de fazer perguntas, ser aconselhado? Temos um novo espaço de comunicação. Envie email para aconselhamentopaodehoje@gmail.com. Não é necessário se identificar.  

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Daniel na cova dos leões

Diálogo - Darcy Ribeiro e Leonardo Boff

Como ovelhas sem pastor