Preguiça

O preguiçoso alega: “Há uma fera violenta no caminho, um leão feroz rondando". Assim como a porta gira em suas dobradiças, assim o preguiçoso se revira sonolento. O preguiçoso até consegue colocar a mão no prato; contudo, levá-la à boca é para ele um esforço extenuante! A pessoa indolente se acha mais esperta do que sete homens que respondem com bom senso. Como alguém que decide pegar um cão pelas orelhas, assim sofre aquele que se mete em discussão alheia! (Provérbios 26:13-17)

Preguiça, creio que essa seja uma das principais posturas relacionais de nossos dias. Alguém poderia objetar dizendo: "impossível, as pessoas nunca trabalharam tanto, somos a geração de pessoas que mais horas trabalha, jamais houve na história uma geração para quem o tempo esteja passando mais rápido por conta das muitas atividades". De fato, mas, preguiça não é o antônimo de ativismo. De acordo com o livro dos Provérbios preguiça é a postura passiva e/ou inoperante, em relação às questões que ameaçam a vida humana. Nesse sentido somos a geração mais indolente da história. 

De acordo com o texto de provérbios observo    características do preguiçoso:

1. Primeira característica: O preguiçoso alega: “Há uma fera violenta no caminho, um leão feroz rondando". O preguiçoso é aquele que apenas observa as situações e condições que ameaçam a vida humana, no entanto, se limita a uma postura de resguardo temeroso e ao  "mi mi mi". Eis nossa geração, cheia de opinião, informação (nem sempre de boa qualidade) mas, sem nenhuma ação prática. Observadores passivos da injustiça, cultivamos, inclusive, um interesse mórbido pelo caos, pela violência. O medo é o deus de uma geração que toma a catástrofe como absoluta. Não à toa a palavra "preguiça" no hebraico (língua na qual foram escritos os provérbios) deriva-se de גאד  (da’ag) que transmite a ideia de "medo", "ansiedade". A preguiça é filha do medo. Nossa geração é filha do medo. Não intervém na história, não provoca revoluções de nenhuma natureza porque está tomada pelo medo, ou seja, pela certeza de que a ameaça à vida e a catástrofe são entes absolutos.

2. Segunda: Assim como a porta gira em suas dobradiças, assim o preguiçoso se revira sonolento. O preguiçoso não é aquele que não realiza movimentos, a preguiça não é ausência de atividade, ação. Preguiça é a ação em torno de si mesmo. Ou seja, é a ação que não intervém na história. Em última instância a essência da preguiça é o individualismo. Na concepção bíblica toda ação que visa exclusivamente o "eu" é uma atividade preguiçosa, porque provém da ansiedade e do medo. Gente que vive para si, exclusivamente, é gente preguiçosa. Não importa o quanto corra, se as muitas ações realizadas não impactam o mundo e as pessoas ao nosso redor, somos gente preguiçosa.

3. Uma terceira característica é a incapacidade de compartilhar: O preguiçoso até consegue colocar a mão no prato; contudo, levá-la à boca é para ele um esforço extenuante! 
Responda, Jesus nos ensina a nos alimentarmos primeiro, ou, dando graças, alimentar nossos irmãos? Pois é, Ele nos ensina a alimentarmos nossos irmãos primeiro, quem parte, come do que sobrar (e sempre sobra muito). Portanto, a incapacidade de "levar o alimento à boca", não é a incapacidade de levar o alimento à própria boca, mas, à dos irmãos. O preguiçoso, no entanto, é aquele que mete a mão no prato sem conseguir servir àqueles que estão ao seu lado. O preguiçoso só pensa em si, jamais serve ninguém. A preguiça  é a escassez da gratidão e da compaixão em nosso ser.

4. Quarta característica: A pessoa indolente se acha mais esperta do que sete homens que respondem com bom senso. O preguiçoso se considera sábio, por viver exclusivamente para si, se considera mais sábio que sete pessoas responsáveis. O responsável, é aquele que tem capacidade de responder por seus irmãos. Responsável é aquele que tem a consciência de que os problemas de seus irmãos são seus problemas. O responsável é uma coluna, um abrigo, um conselheiro. O contrário de preguiça é responsabilidade. Responder só por si é infantilidade, pessoas maduras se fazem responsáveis por seus irmãos. O preguiçoso considera sábio se infantilizar, esquiva-se de responsabilidade.

5. Última característica do preguiçoso: Como alguém que decide pegar um cão pelas orelhas, assim sofre aquele que se mete em discussão alheia! O preguiçoso quando lê o verso acima acredita que o que está sendo dito é que gente esperta não se mete em questão alheia. Pois só o preguiçoso se tornou tão egoísta a ponto de deixar uma ameaça à solta sem fazer nada a respeito.


Ele nos deu Espírito de Ousadia, não de temor!

Timóteo

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