40 dias com o Espírito Santo - dia 09 - O amor incessante de Deus

(Meditação: Lucas 15)

É muito comum pensar que a espiritualidade consiste, em primeiro lugar, da busca por Deus. Até nos lembramos das palavras de Jesus, "busquem o Reino em primeiro lugar".  No entanto, o Reino do céu não é o resultado de nosso engajamento religioso. É a experiência fundamental do amor do Pai. Não é possível conhecer ou buscar o Reino sem antes fazer a experiência de nascer do Espírito para a consciência do amor de Deus em nós. De maneira que a espiritualidade cristã se fundamenta, antes de mais nada, em que crer na verdade de que eles nos buscou primeiro. Ele nos amou primeiro, nos buscou antes que ouvíssemos falar sobre Ele. A Bíblia toda conta a história do amor incessante e intenso do Pai em nossa direção. A narrativa de Deus e da humanidade se trata da saga do amor de Deus em reencontrar seus filhos a todo custo (literalmente). Esse fato sempre gerou e gera, perplexidade nos corações humanos, principalmente nos religiosos (como eu). O embaraçoso amor do Pai. A graça implode minhas lógicas de justiça. Deixava em perplexidade também os religiosos da época de Jesus. Tanto que ele investe tempo em explicar e justificar o amor do Pai de modo muito singelo aos religiosos que questionavam que ele buscasse se relacionar com gente "pecadora". Ele conta três pequenas histórias que narram a busca incessante de Deus pelos seus filhos. Primeiro ele conta a história do Pastor-Filho que tendo cem ovelhas vai em busca de uma única que se perdeu. Nenhum pastor na época de Jesus faria isso. Se trata de uma busca que envolve alto risco, elevado custo. Esse é o sentido de deixar as outras noventa e nove, enfatizar o alto custo que o Pastor-Filho está disposto a investir para reaver sua ovelha. Custo que tem sua máxima expressão na cruz. E quando a encontra a coloca nos ombros cheio de alegria. Chega em casa, chama os vizinhos e dá uma festa em comemoração ao achado. Jesus diz ainda que assim é no céu quando uma pessoa é encontrada pelo Pastor-Filho, há festa! Há festa no céu quando "um pecador se arrepende". A segunda história que Jesus conta retrata uma mulher tendo dez moedinhas, perde uma delas, e então ela acende uma lâmpada e empreende uma busca diligentemente pela casa, revira os móveis, muda coisas de lugar, põe a casa abaixo até encontrá-la. E quando a encontra chama as amigas e vizinhas, dá uma festa na qual a palavra de ordem é a alegria em ter encontrado uma moedinha. Quem faz isso? Ninguém. Não por apenas uma dracma. Jesus diz que o Espírito-Mulher-Lâmpada, aquele que ordena, revira, examina casas, jardins e corações desde a eternidade, está empenhado no negócio de buscar, iluminar, a casa até que se encontre aquilo que ninguém julga ter valor, mas, que para Deus é extremamente importante. A ponto de dar uma festa, e alegrar-se sobremaneira ao encontrar. De igual modo, Jesus conta ainda a história de um Pai que reencontra um filho após tê-lo perdido. Numa das histórias mais singelas e tocantes dos evangelhos. Talvez a mais conhecida das histórias contadas por Jesus. Que é a história do filho que se afasta da relação com o Pai e o insulta, mas, depois de algum tempo, tendo passado por muitas dificuldades retorna e é aceito sem restrições, mais ainda, é acolhido com honra.
Com isso Jesus me ensina que:

1. O centro do evangelho é a experiência, a tomada de consciência desse amor incessante de Deus que nos procura. Que não mede esforços, paga todos os preços, para nos resgatar de lugares perigosos e sombrios pelos quais percorremos. O amor de Deus nos busca, trabalha arduamente, consome valioso azeite para que, em luz eu e você possamos ser achados e tenhamos nosso valor afirmado por Ele, descobrimos Nele a preciosidade do que carregamos e somos. Sobretudo, o centro do evangelho é a consciência do amor do Pai que perdoa toda ofensa e me restitui a verdadeira identidade, filho de Deus, pela graça, recebendo de tudo aquilo que é de Deus.

2. A ênfase de Jesus, nas três histórias está na festa que acontece no coração de Deus e que irradia o céu, quando somos achados. Essa alegria é expressão da verdade de que para Deus não há nada mais importante que nos ter novamente em relação com ele, nós somos a busca de Deus, Sua alegria.  O que para mim é um mistério. Deus é Deus e se basta, e ainda assim se permitiu sofrer de saudades de mim e de você. Não precisava, mas, quis. Sim, pois a alegria do reencontro pressupõe, na mesma medida, a dor da perda. De modo que quando acontece o encontro os céus de Deus explodem em festa, lá e aqui dentro de nós. A festa é a melhor imagem para expressar a alegria intensa e visceral experimentada pelo Pai e por nós ao nos reencontrarmos nesse abraço eterno. 

3. Jesus afirma que o ato de reencontrar o que se perdeu, em todos os casos se dá por meio do "arrependimento". Quando o pecador se arrepende há reencontro, há festa. Arrepender-se é ato meu e seu. Nós é que temos que obedecer ao chamado do arrependimento. Não é uma opção. É o único modo de se viver. Se assim não fosse Jesus não ordenaria "arrependam-se e creiam no evangelho", é um imperativo, não uma opção. É mudar a mente e o coração pelo acolhimento da boa notícia. Arrepender-se é se saber perdido e carente da necessidade de ser carregado, se aconchegar nos ombros do Pastor-Filho, perceber que são os pés Dele que fazem o caminho seguro para fora do abismo, dos lobos, em direção a uma vida  plena. Arrepender-se é ter que se encarar na luz do Espírito da Verdade. Por Ele ser ser guiado. Arrepender-se é ser ser iluminado pela Lâmpada do Espírito e saber que ele está revirando nosso coração para que vejamos o quão valiosos somos para Deus. Arrepender-se é admitir que nossos recursos são extremamente limitados e insuficientes para jornada. Arrepender-se é confiar no amor do Pai, voltar para casa e participar da festa que Ele faz pela alegria que tem em ter-nos de volta.

"Onde você está?" é a pergunta de Deus para nós desde o Éden. Por quais caminhos andam nosso coração. Pois, se "minha alma só encontra repouso quando descansa em Ti", estou aprendendo que antes, a alegria Dele só é completa quando me encontro Nele. E a medida que a consciência desse amor incessante que me busca me alcança e me perpassa sou encontrado e me encontro. 

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